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CASO IVANDEL
Advogada de um dos acusados por morte do jornalista diz que confissão foi feita sob tortura; delegado nega
Sem ossada, polícia procura novas provas
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois da descoberta de que os
fragmentos de ossos encontrados
em uma cova rasa na zona sul de
São Paulo não são do jornalista
Ivandel Machado Godinho Júnior, 55, a polícia paulista insiste
na culpa de três suspeitos presos e
corre contra o relógio para encontrar uma prova material do crime.
Segundo a polícia, três pessoas
-Fabiano Pavan do Prado, 30,
Wilson de Moraes Silva, 19, e um
adolescente de 17 anos- confessaram o envolvimento no seqüestro e na morte do jornalista. "A
prova não é a melhor de todas.
Mas está longe de ser a pior", afirma o delegado Wagner Giudice,
diretor da DAS (Divisão Anti-Seqüestro), sobre a confissão.
Essa confissão, no entanto, também passou a ser questionada ontem. Patrícia Penna Saraiva Marques, advogada de Silva, afirma
que os dois suspeitos adultos foram obrigados pela polícia a assinar o depoimento. Segundo ela,
os dois afirmaram ter sido torturados com choque elétrico e
ameaçados com fogo.
Godinho Júnior foi seqüestrado
no dia 22 de outubro de 2003. A
família pagou resgate de US$ 50
mil em janeiro de 2004. No dia 4
deste mês, Silva, Prado e um adolescente foram presos.
Relato do crime
Segundo a polícia, eles afirmaram que o jornalista foi morto por
ter tentado fugir. Ainda segundo a
polícia, os suspeitos teriam dito
que deceparam a cabeça do jornalista e atearam fogo ao corpo. No
dia seguinte, em um matagal, teriam incendiado o restante dos
ossos e jogado cal e terra.
Giudice diz que os próprios suspeitos apontaram o local onde os
ossos foram enterrados. Dezessete fragmentos de ossos foram coletados. O achado seria a única
prova material do crime.
Laudo do IML (Instituto Médico Legal) apontou, porém, que os
fragmentos não são humanos e
sim de cabras, ovelhas e aves, de
acordo com o diretor da DAS.
Segundo ele, os presos afirmam
que outros três suspeitos de participar do seqüestro, já identificados mas que estão foragidos, foram ao local e tentaram limpar a
área. "Pode ter acontecido as duas
coisas: o restante da quadrilha
conseguiu tirar uma parte e o que
sobrou foi perdido. Os ossos, que
tinham sido queimados, estavam
enterrados havia um ano e quatro
meses", diz.
Para Giudice, a confissão dos
suspeitos, por enquanto, justifica
a prisão temporária. "Vamos
atrás da prova material. Mas, se
não der, vamos ter de contar com
a prova testemunhal, não vai ter
jeito", disse.
Tortura
"Essa confissão é nula e a polícia
não tem a materialidade da prova", afirma a advogada Patrícia
Penna Saraiva Marques. Ela diz
que os dois suspeitos afirmaram,
na semana passada, em uma conversa no 77º DP (Santa Cecília),
onde cumprem prisão temporária de 30 dias, que foram torturados pelos policiais.
A advogada reconhece que os
suspeitos não apresentam hematomas. "A tortura é feita para não
deixar marcas", diz. Ela afirma
que deve pedir hoje a revogação
da prisão de Silva -dois advogados se apresentaram ontem na
DAS para defender Prado, mas
não falaram com os repórteres.
O diretor da DAS contesta a
acusação da advogada. Segundo
ele, o depoimento foi acompanhado por familiares dos suspeitos. "Isso é mentira, é uma tática
de defesa. Por que só está falando
isso agora?", questionou. Segundo ele, os dois suspeitos voltaram
a confirmar ontem a participação
na morte do jornalista.
Mais suspeitos
Além dos três presos, a polícia
diz que já identificou outros três
suspeitos. Um deles, Sidnei Correia, o Sidnelson, seria o operacional da quadrilha.
Apesar de não revelar os nomes,
a polícia também está à procura
de dois homens conhecidos pelos
apelidos de Juninho e Neneco,
também moradores da zona sul
da capital paulista.
Segundo Giudice, Juninho teria
repassado a Godinho Júnior, no
primeiro dia de cativeiro, um celular para que falasse com a família. Só houve um contato do jornalista com a família. A polícia
desconfia que Juninho tenha sido
o negociador. Neneco também teria ficado no cativeiro.
Em nota, a família do jornalista
criticou ontem o trabalho da polícia (leia texto nesta pág.). O secretário da Segurança Pública de São
Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho, informou, por sua assessoria,
que não fala de investigação em
andamento e recusou o pedido de
entrevista.
Giudice afirmou que a polícia
nunca informou que o caso estivesse encerrado. "Sempre dissemos que que a confirmação da ossada dependia de laudo."
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