São Paulo, quinta-feira, 20 de janeiro de 2005

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CASO IVANDEL

Advogada de um dos acusados por morte do jornalista diz que confissão foi feita sob tortura; delegado nega

Sem ossada, polícia procura novas provas

DA REPORTAGEM LOCAL

Depois da descoberta de que os fragmentos de ossos encontrados em uma cova rasa na zona sul de São Paulo não são do jornalista Ivandel Machado Godinho Júnior, 55, a polícia paulista insiste na culpa de três suspeitos presos e corre contra o relógio para encontrar uma prova material do crime.
Segundo a polícia, três pessoas -Fabiano Pavan do Prado, 30, Wilson de Moraes Silva, 19, e um adolescente de 17 anos- confessaram o envolvimento no seqüestro e na morte do jornalista. "A prova não é a melhor de todas. Mas está longe de ser a pior", afirma o delegado Wagner Giudice, diretor da DAS (Divisão Anti-Seqüestro), sobre a confissão.
Essa confissão, no entanto, também passou a ser questionada ontem. Patrícia Penna Saraiva Marques, advogada de Silva, afirma que os dois suspeitos adultos foram obrigados pela polícia a assinar o depoimento. Segundo ela, os dois afirmaram ter sido torturados com choque elétrico e ameaçados com fogo.
Godinho Júnior foi seqüestrado no dia 22 de outubro de 2003. A família pagou resgate de US$ 50 mil em janeiro de 2004. No dia 4 deste mês, Silva, Prado e um adolescente foram presos.

Relato do crime
Segundo a polícia, eles afirmaram que o jornalista foi morto por ter tentado fugir. Ainda segundo a polícia, os suspeitos teriam dito que deceparam a cabeça do jornalista e atearam fogo ao corpo. No dia seguinte, em um matagal, teriam incendiado o restante dos ossos e jogado cal e terra.
Giudice diz que os próprios suspeitos apontaram o local onde os ossos foram enterrados. Dezessete fragmentos de ossos foram coletados. O achado seria a única prova material do crime.
Laudo do IML (Instituto Médico Legal) apontou, porém, que os fragmentos não são humanos e sim de cabras, ovelhas e aves, de acordo com o diretor da DAS.
Segundo ele, os presos afirmam que outros três suspeitos de participar do seqüestro, já identificados mas que estão foragidos, foram ao local e tentaram limpar a área. "Pode ter acontecido as duas coisas: o restante da quadrilha conseguiu tirar uma parte e o que sobrou foi perdido. Os ossos, que tinham sido queimados, estavam enterrados havia um ano e quatro meses", diz.
Para Giudice, a confissão dos suspeitos, por enquanto, justifica a prisão temporária. "Vamos atrás da prova material. Mas, se não der, vamos ter de contar com a prova testemunhal, não vai ter jeito", disse.

Tortura
"Essa confissão é nula e a polícia não tem a materialidade da prova", afirma a advogada Patrícia Penna Saraiva Marques. Ela diz que os dois suspeitos afirmaram, na semana passada, em uma conversa no 77º DP (Santa Cecília), onde cumprem prisão temporária de 30 dias, que foram torturados pelos policiais.
A advogada reconhece que os suspeitos não apresentam hematomas. "A tortura é feita para não deixar marcas", diz. Ela afirma que deve pedir hoje a revogação da prisão de Silva -dois advogados se apresentaram ontem na DAS para defender Prado, mas não falaram com os repórteres.
O diretor da DAS contesta a acusação da advogada. Segundo ele, o depoimento foi acompanhado por familiares dos suspeitos. "Isso é mentira, é uma tática de defesa. Por que só está falando isso agora?", questionou. Segundo ele, os dois suspeitos voltaram a confirmar ontem a participação na morte do jornalista.

Mais suspeitos
Além dos três presos, a polícia diz que já identificou outros três suspeitos. Um deles, Sidnei Correia, o Sidnelson, seria o operacional da quadrilha.
Apesar de não revelar os nomes, a polícia também está à procura de dois homens conhecidos pelos apelidos de Juninho e Neneco, também moradores da zona sul da capital paulista.
Segundo Giudice, Juninho teria repassado a Godinho Júnior, no primeiro dia de cativeiro, um celular para que falasse com a família. Só houve um contato do jornalista com a família. A polícia desconfia que Juninho tenha sido o negociador. Neneco também teria ficado no cativeiro.
Em nota, a família do jornalista criticou ontem o trabalho da polícia (leia texto nesta pág.). O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho, informou, por sua assessoria, que não fala de investigação em andamento e recusou o pedido de entrevista.
Giudice afirmou que a polícia nunca informou que o caso estivesse encerrado. "Sempre dissemos que que a confirmação da ossada dependia de laudo."


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