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Família de desaparecido quer que resgate na cratera continue
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
O filho do contínuo Cícero
Augustinho da Silva, 61, que está desaparecido, pede que as
buscas não sejam suspensas no
local do acidente da linha 4-amarela do metrô.
"Para mim, eles [do Consórcio Via Amarela] estão com medo de encontrar mais gente",
diz o vendedor Alexandre Lima
da Silva, 23. Ele afirma que não
tem como garantir que o pai tenha caído no buraco. Por outro
lado, acha impossível que apenas uma pessoa estivesse passando pela rua no momento do
desmoronamento de terra.
"É muita coincidência ele ter
desaparecido no dia do acidente. A última vez que ele foi visto
foi na rua Prof. Alfonso Bovero,
às 13h, mas meu pai circulava
pela cidade toda e várias vezes
ouvi ele dizer que ia para Pinheiros", diz. Na rua Alfonso
Bovero, pessoas que o conhecem afirmam que ele havia comentado que ia para Pinheiros.
"Parece que chegou a convidar um colega para ir com ele,
mas acabou indo sozinho", diz a
balconista e caixa de lanchonete Vilma Rodrigues, 26. "Ele
passou por aqui [na esquina da
rua Caraibas com a Alfonso Bovero] às 12h30. Sempre vinha
com o jornal embaixo do braço
e pedia café", conta.
O contínuo não trabalhava
para uma empresa específica e
fazia serviços -levava documentos, ia a bancos e cartórios- para colegas e amigos.
Também trabalhava como encanador e eletricista quando
era chamado.
"Ele não tinha emprego, então fazia o que aparecia", conta
o filho. Alexandre nega que o
pai tivesse inimigos ou fosse
doente. "Ele caminhava bastante, era bem disposto. Meu
pai morava há 20 anos no bairro e era querido por todos."
Ele conta que na sexta, quando deu 19h, sua mãe estranhou
o fato de o marido não ter chegado nem ligado. "Às 23h, ela
estava desesperada e me telefonou para eu ir procurá-lo."
O vendedor esteve no IML
(Instituto Médico Legal), na
Santa Casa, no Hospital Universitário, no Hospital das Clínicas e no Pronto Socorro da
Lapa. O boletim de ocorrência
de desaparecimento de pessoa
foi feito no sábado passado, no
23º DP (Perdizes).
"As pessoas acham que não
estamos interessados em encontrar meu pai porque não estamos lá no buraco. Isso não é
verdade. Mas quem vai pagar as
minhas contas? Preciso trabalhar", afirma.
A última coisa que Alexandre
lembra ter dito para o pai foi:
"Pára de roncar", no meio da
madrugada de quinta-feira. "A
gente nunca imagina que isso
[desaparecimento] vai acontecer com sua família."
Ontem, a delegada Gislaine
Ribeiro Pato, da delegacia de
desaparecidos do DHPP, ouviu
a mulher de Cícero e colegas do
contínuo. Ela pediu, via medida
judicial, a quebra do sigilo de
Cícero e, agora, aguarda resposta das operadoras. O desaparecido tinha dois celulares
-um deles só dá caixa postal e,
o outro, diz que está fora da
área de cobertura.
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