São Paulo, sábado, 20 de janeiro de 2007

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Família de desaparecido quer que resgate na cratera continue

AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL

O filho do contínuo Cícero Augustinho da Silva, 61, que está desaparecido, pede que as buscas não sejam suspensas no local do acidente da linha 4-amarela do metrô.
"Para mim, eles [do Consórcio Via Amarela] estão com medo de encontrar mais gente", diz o vendedor Alexandre Lima da Silva, 23. Ele afirma que não tem como garantir que o pai tenha caído no buraco. Por outro lado, acha impossível que apenas uma pessoa estivesse passando pela rua no momento do desmoronamento de terra.
"É muita coincidência ele ter desaparecido no dia do acidente. A última vez que ele foi visto foi na rua Prof. Alfonso Bovero, às 13h, mas meu pai circulava pela cidade toda e várias vezes ouvi ele dizer que ia para Pinheiros", diz. Na rua Alfonso Bovero, pessoas que o conhecem afirmam que ele havia comentado que ia para Pinheiros.
"Parece que chegou a convidar um colega para ir com ele, mas acabou indo sozinho", diz a balconista e caixa de lanchonete Vilma Rodrigues, 26. "Ele passou por aqui [na esquina da rua Caraibas com a Alfonso Bovero] às 12h30. Sempre vinha com o jornal embaixo do braço e pedia café", conta.
O contínuo não trabalhava para uma empresa específica e fazia serviços -levava documentos, ia a bancos e cartórios- para colegas e amigos. Também trabalhava como encanador e eletricista quando era chamado.
"Ele não tinha emprego, então fazia o que aparecia", conta o filho. Alexandre nega que o pai tivesse inimigos ou fosse doente. "Ele caminhava bastante, era bem disposto. Meu pai morava há 20 anos no bairro e era querido por todos."
Ele conta que na sexta, quando deu 19h, sua mãe estranhou o fato de o marido não ter chegado nem ligado. "Às 23h, ela estava desesperada e me telefonou para eu ir procurá-lo."
O vendedor esteve no IML (Instituto Médico Legal), na Santa Casa, no Hospital Universitário, no Hospital das Clínicas e no Pronto Socorro da Lapa. O boletim de ocorrência de desaparecimento de pessoa foi feito no sábado passado, no 23º DP (Perdizes).
"As pessoas acham que não estamos interessados em encontrar meu pai porque não estamos lá no buraco. Isso não é verdade. Mas quem vai pagar as minhas contas? Preciso trabalhar", afirma.
A última coisa que Alexandre lembra ter dito para o pai foi: "Pára de roncar", no meio da madrugada de quinta-feira. "A gente nunca imagina que isso [desaparecimento] vai acontecer com sua família."
Ontem, a delegada Gislaine Ribeiro Pato, da delegacia de desaparecidos do DHPP, ouviu a mulher de Cícero e colegas do contínuo. Ela pediu, via medida judicial, a quebra do sigilo de Cícero e, agora, aguarda resposta das operadoras. O desaparecido tinha dois celulares -um deles só dá caixa postal e, o outro, diz que está fora da área de cobertura.


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