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EDUCAÇÃO
Carreiras menos concorridas concentram estudantes carentes mesmo nas universidades públicas
Desigualdade social está nos cursos
da Reportagem Local
As pesquisas sobre estudantes
de baixa renda que conseguiram
chegar ao ensino superior desmentem o consenso de que "pobre vai para a universidade particular, e rico consegue a vaga na
instituição pública".
Na verdade, esses dois tipos de
estudantes se diferenciam pelo
curso que escolhem, e não pela
instituição.
"O perfil do aluno de um curso
de medicina de uma universidade
particular é quase o mesmo do
que é aprovado em uma pública.
A desigualdade no acesso ao ensino superior não se dá entre instituições, mas sim entre cursos",
afirma a antropóloga da UFRJ
Yvonne Maggie.
Os dados dos aprovados no vestibular da Fuvest comprovam o
estudo da antropóloga.
Do total de alunos que passaram no curso de letras, 21,6% afirmaram não ter carro em casa,
43,5% disseram ter um e 34,5%,
dois ou mais.
Em medicina, no entanto, apenas 4,3% afirmaram não ter carro
em casa, 24% disseram que existe
apenas um carro e os restantes
71% informaram que têm dois.
Liliane de Souza Castro, 20,
sempre sonhou em ser jornalista.
Em 98, prestou o vestibular da Fuvest para área, mas nem sequer
passou para a segunda fase do
concurso.
Decepcionada, no ano passado,
ela abandonou a vocação. Inscreveu-se novamente no vestibular
da USP, mas para tentar uma vaga
em pedagogia.
Foi aprovada.
"Não quis arriscar. Deixei para
tentar jornalismo em uma universidade menos concorrida, a
Unesp", afirma. A estratégia também não deu certo. Acabou se
matriculando em pedagogia.
Liliane começou a trabalhar aos
14 anos para ajudar no orçamento
dos pais -um motorista de ônibus e uma operária de fábrica.
Por mais que a preparação para
o vestibular durante o ano passado visasse o curso menos concorrido, ela conta que o esforço para
conquistar a vaga foi grande.
"Estudava de madrugada por
causa do barulho durante o dia.
Minha casa ainda não tem nenhuma parede. É como se fosse uma
caixa de fósforos virada de cabeça
para baixo com dois furos. Um é a
janela, o outro é a porta."
Apesar de haver universitários
de famílias com baixa renda nas
universidades, a antropóloga da
UFRJ explica que isso tem um limite. Os alunos considerados de
baixa renda têm ganho familiar
mensal médio de no mínimo seis
salários mínimos. "Abaixo dessa
linha, porém, são muito raros os
casos de sucesso nos vestibulares", diz Yvonne Maggie .
Elitização
Um dado do estudo Dez Anos
Depois, das professoras Elis Cristina Fiamengue e Dulce Consuelo
Andreatta Whitaker, ambas da
Unesp, mostra que a elitização de
cursos mais concorridos se acentuou na década passada.
As duas fizeram uma comparação entre o perfil dos candidatos
que foram aprovados na Universidade Estadual Paulista em 1985
e dos que passaram em 1995.
Dos candidatos aprovados para
medicina em 1985, 68,9% deles
haviam feito todo o ensino fundamental em escola pública.
Dez anos depois, o número de
alunos que passaram para o curso
e haviam feito todo o antigo primeiro grau em escola pública foi
de apenas 24%, enquanto os que
cursaram escolas particulares representaram 59% do total.
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