|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SEGURANÇA
Marco Petrelluzzi defende compra de helicópteros e culpa desemprego e recessão pela violência
Seria pior sem gastos, diz secretário
da Reportagem Local
O secretário da Segurança de
São Paulo, Marco Vinicio Petrelluzzi, diz que, sem que o Estado
fizesse os investimentos realizados, as taxas de criminalidade talvez tivessem crescido "muito
mais".
Petrelluzzi afirmou à Folha que
o aumento da criminalidade não
deve ser debitado na conta da polícia, mas ao cenário que combina
desemprego e recessão.
O secretário também defendeu
a compra dos helicópteros, afirmando que a polícia precisa de todos os tipos de veículos.
Folha - O governo Covas aumentou em 30% os gastos em
segurança desde 1995. Por que
o aumento dos investimentos
não reduz a criminalidade?
Marco Vinicio Petrelluzzi - Investimento em polícia é só um
componente. Nesses cinco anos,
os índices sociais pioraram. Se você olhar a cidade de São Paulo, verá um certo descuido. Tudo isso
contribui para que o crime tenha
um crescimento. Mas temos que
reconhecer: se a repressão não tivesse melhorado, e melhorou
muito com os investimentos, talvez os índices tivessem subido
muito mais. Basta ver o número
de presos. Quando o governador
Covas assumiu , havia em torno
de 50 mil. No ano passado, chegamos a 86 mil. Não é o número de
prisões, que passou de 100 mil,
mas de presos estáveis. Desde que
assumi, há 14 meses, foram 1.000
presos a mais por mês.
Folha - Apesar do aumento de
prisões, os roubos cresceram
117,4%. Será que os instrumentos clássicos da polícia já não
dão mais conta da violência?
Petrelluzzi - Tem alguns estudiosos que sustentam que a polícia é o fator quase que único na
queda da criminalidade. São pessoas muito impressionadas com a
polícia de Nova York. Só que elas
esquecem de olhar outros fatores
que existem em Nova York. Por
exemplo: o crescimento econômico constante nos últimos dez
anos, há praticamente pleno emprego e queda dramática na população jovem. Aqui, temos dez
anos de recessão, uma das maiores taxas de desemprego da história do Brasil, uma economia sendo reordenada e a taxa de jovens
na população é a mais alta da história. Tudo isso são fatores de criminalidade. A repressão está praticamente no limite. Não há como
aumentar muito o número de
prisões. Se os demais índices não
melhorarem, vamos ter uma extrema dificuldade para conter a
criminalidade. Tivemos vitórias
em roubo a banco, em roubo de
cargas. Mas não creio que possamos reduzir o índice geral de criminalidade só com repressão.
Folha - Não teria um impacto
maior sobre a criminalidade
comprar 611 veículos com a
verba o que a secretaria usou
para adquirir cinco helicópteros?
Petrelluzzi - Não é verdade. Temos de ter bicicleta e temos de ter
helicóptero. Para cada tipo de patrulhamento, precisamos de um
tipo de veículo. O número de vidas que os helicópteros têm salvo
em missões de resgate é altíssimo.
Dizem que, com o dinheiro que se
gastou com Land Rover, daria para comprar três Corsinhas. Só que
para andar na periferia é preciso
de jipe 4x4.
Folha - Especialistas dizem
que um aumento de salário para os policiais teria mais impacto sobre a violência do que a
compra de equipamentos. O sr.
tem planos de elevar os salários?
Petrelluzzi - As pessoas fazem
afirmações de puro "achismo". O
que está embutida nessa afirmação é que a polícia está parada.
Mas os números mostram exatamente o contrário: a polícia quebrou todos os recordes de prisão
e de apreensão de drogas. O governo tem plena consciência de
que o salário do policial precisaria
ser melhor. Nosso limitante é que
o governo Mário Covas tem um
compromisso de campanha de
não gastar mais do que arrecada.
Folha - Mas não seria melhor
usar a verba de equipamentos
para aumentar salários?
Petrelluzzi - Não, porque o volume de dinheiro para salário é
muito maior. O gasto com investimento chega a 2%, 3% do orçamento, enquanto se gasta 92%
com salários.
Folha - Há uma versão de que
a compra de equipamentos é
uma tática eleitoral, para dar visibilidade à Secretaria da Segurança, a pior avaliada pela população. É verdade?
Petrelluzzi - Tudo isso foi discutido na Assembléia e aprovado.
Vou comprar mesmo. Estou negociando mais uma grande compra de viaturas e coletes à prova
de bala porque precisa.
Texto Anterior: Cotidiano imaginário: A vida por baixo do pano Próximo Texto: Estado prende mal, afirma pesquisador Índice
|