São Paulo, segunda-feira, 20 de março de 2000


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SEGURANÇA
Marco Petrelluzzi defende compra de helicópteros e culpa desemprego e recessão pela violência
Seria pior sem gastos, diz secretário

da Reportagem Local

O secretário da Segurança de São Paulo, Marco Vinicio Petrelluzzi, diz que, sem que o Estado fizesse os investimentos realizados, as taxas de criminalidade talvez tivessem crescido "muito mais".
Petrelluzzi afirmou à Folha que o aumento da criminalidade não deve ser debitado na conta da polícia, mas ao cenário que combina desemprego e recessão.
O secretário também defendeu a compra dos helicópteros, afirmando que a polícia precisa de todos os tipos de veículos.

Folha - O governo Covas aumentou em 30% os gastos em segurança desde 1995. Por que o aumento dos investimentos não reduz a criminalidade?
Marco Vinicio Petrelluzzi -
Investimento em polícia é só um componente. Nesses cinco anos, os índices sociais pioraram. Se você olhar a cidade de São Paulo, verá um certo descuido. Tudo isso contribui para que o crime tenha um crescimento. Mas temos que reconhecer: se a repressão não tivesse melhorado, e melhorou muito com os investimentos, talvez os índices tivessem subido muito mais. Basta ver o número de presos. Quando o governador Covas assumiu , havia em torno de 50 mil. No ano passado, chegamos a 86 mil. Não é o número de prisões, que passou de 100 mil, mas de presos estáveis. Desde que assumi, há 14 meses, foram 1.000 presos a mais por mês.

Folha - Apesar do aumento de prisões, os roubos cresceram 117,4%. Será que os instrumentos clássicos da polícia já não dão mais conta da violência?
Petrelluzzi -
Tem alguns estudiosos que sustentam que a polícia é o fator quase que único na queda da criminalidade. São pessoas muito impressionadas com a polícia de Nova York. Só que elas esquecem de olhar outros fatores que existem em Nova York. Por exemplo: o crescimento econômico constante nos últimos dez anos, há praticamente pleno emprego e queda dramática na população jovem. Aqui, temos dez anos de recessão, uma das maiores taxas de desemprego da história do Brasil, uma economia sendo reordenada e a taxa de jovens na população é a mais alta da história. Tudo isso são fatores de criminalidade. A repressão está praticamente no limite. Não há como aumentar muito o número de prisões. Se os demais índices não melhorarem, vamos ter uma extrema dificuldade para conter a criminalidade. Tivemos vitórias em roubo a banco, em roubo de cargas. Mas não creio que possamos reduzir o índice geral de criminalidade só com repressão.

Folha - Não teria um impacto maior sobre a criminalidade comprar 611 veículos com a verba o que a secretaria usou para adquirir cinco helicópteros?
Petrelluzzi -
Não é verdade. Temos de ter bicicleta e temos de ter helicóptero. Para cada tipo de patrulhamento, precisamos de um tipo de veículo. O número de vidas que os helicópteros têm salvo em missões de resgate é altíssimo. Dizem que, com o dinheiro que se gastou com Land Rover, daria para comprar três Corsinhas. Só que para andar na periferia é preciso de jipe 4x4.

Folha - Especialistas dizem que um aumento de salário para os policiais teria mais impacto sobre a violência do que a compra de equipamentos. O sr. tem planos de elevar os salários?
Petrelluzzi -
As pessoas fazem afirmações de puro "achismo". O que está embutida nessa afirmação é que a polícia está parada. Mas os números mostram exatamente o contrário: a polícia quebrou todos os recordes de prisão e de apreensão de drogas. O governo tem plena consciência de que o salário do policial precisaria ser melhor. Nosso limitante é que o governo Mário Covas tem um compromisso de campanha de não gastar mais do que arrecada.

Folha - Mas não seria melhor usar a verba de equipamentos para aumentar salários?
Petrelluzzi -
Não, porque o volume de dinheiro para salário é muito maior. O gasto com investimento chega a 2%, 3% do orçamento, enquanto se gasta 92% com salários.

Folha - Há uma versão de que a compra de equipamentos é uma tática eleitoral, para dar visibilidade à Secretaria da Segurança, a pior avaliada pela população. É verdade?
Petrelluzzi -
Tudo isso foi discutido na Assembléia e aprovado. Vou comprar mesmo. Estou negociando mais uma grande compra de viaturas e coletes à prova de bala porque precisa.



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