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"Alternativa é radicalizar confronto"
CLAUDIA ANTUNES
da Sucursal do Rio
Dois dias depois de ser demitido, o antropólogo Luiz Eduardo
Soares acha que ainda há tempo
de o governador Anthony Garotinho (PDT) voltar atrás e optar por
uma espécie de "pacto com a população", em vez de tentar subordinar a chamada "banda podre"
da polícia. Para isso, na opinião
do ex-coordenador da Segurança,
Garotinho teria que correr riscos
que podem afetar sua popularidade e sua campanha à presidência.
Folha - A população pede
combate à "banda podre", mas
também exige resultados no
combate ao crime. Como conciliar?
Luiz Eduardo Soares - Os grupos perigosos da polícia fazem
chantagem, ameaçam com uma
espécie de greve branca. O governo raciocina assim: se a população quer resultados rápidos e se
esse grupo (a banda podre) é operacional, não vamos correr risco.
Mas a única alternativa seria radicalizar o confronto com esse grupo. Isso só seria possível se nós
abríssemos essa discussão para a
sociedade com toda a franqueza,
tornássemos isso transparente,
para compartilhar os riscos.
Folha - Que grau de risco a população está disposta a correr?
Soares - As pessoas podem
pensar: será que não é mais arriscado soltar esse pessoal por aí, armado e fora da polícia? Eu digo o
seguinte: se esse pessoal é perigoso, é mais perigoso na polícia,
porque tem proteção legal, informações em escala superior. Isso
ameaça até a consolidação da democracia no país.
Folha - Existe a possibilidade
de o governador voltar atrás?
Soares - Se ele verificar, mais
adiante, estar pagando um preço
muito alto pela opção que tomou,
pode rever isso. O governador deseja implementar o programa de
reforma da polícia. O dilema dele
é o de compatibilizar o desejo de
mudança com a conservação do
status quo. Essa necessidade
"fáustica" de fazer o acordo (com
a banda podre) é que vai lhe criar
dificuldades.
Folha - Essa divisão do governador pode vir do fato de ele ter
ambições políticas muito maiores do que o governo estadual?
Soares - Acho que ele tem muita pressa, vai com muita sede ao
pote, optou por soluções rápidas
que são mais fáceis. O enfrentamento mais profundo da questão
poderia levar à perda de popularidade. Se a prioridade é não perder
popularidade a qualquer custo e
ser muito rápido na passagem do
governo para a presidência da República...
Folha - Em termos práticos, como afastar a banda podre?
Soares - Não precisa prender
ninguém. Há muitas razões administrativas para afastar policiais
sem entrar na esfera criminal.
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