São Paulo, segunda-feira, 20 de março de 2000


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"Alternativa é radicalizar confronto"

CLAUDIA ANTUNES
da Sucursal do Rio

Dois dias depois de ser demitido, o antropólogo Luiz Eduardo Soares acha que ainda há tempo de o governador Anthony Garotinho (PDT) voltar atrás e optar por uma espécie de "pacto com a população", em vez de tentar subordinar a chamada "banda podre" da polícia. Para isso, na opinião do ex-coordenador da Segurança, Garotinho teria que correr riscos que podem afetar sua popularidade e sua campanha à presidência.

Folha - A população pede combate à "banda podre", mas também exige resultados no combate ao crime. Como conciliar?
Luiz Eduardo Soares -
Os grupos perigosos da polícia fazem chantagem, ameaçam com uma espécie de greve branca. O governo raciocina assim: se a população quer resultados rápidos e se esse grupo (a banda podre) é operacional, não vamos correr risco. Mas a única alternativa seria radicalizar o confronto com esse grupo. Isso só seria possível se nós abríssemos essa discussão para a sociedade com toda a franqueza, tornássemos isso transparente, para compartilhar os riscos.

Folha - Que grau de risco a população está disposta a correr?
Soares -
As pessoas podem pensar: será que não é mais arriscado soltar esse pessoal por aí, armado e fora da polícia? Eu digo o seguinte: se esse pessoal é perigoso, é mais perigoso na polícia, porque tem proteção legal, informações em escala superior. Isso ameaça até a consolidação da democracia no país.

Folha - Existe a possibilidade de o governador voltar atrás?
Soares -
Se ele verificar, mais adiante, estar pagando um preço muito alto pela opção que tomou, pode rever isso. O governador deseja implementar o programa de reforma da polícia. O dilema dele é o de compatibilizar o desejo de mudança com a conservação do status quo. Essa necessidade "fáustica" de fazer o acordo (com a banda podre) é que vai lhe criar dificuldades.

Folha - Essa divisão do governador pode vir do fato de ele ter ambições políticas muito maiores do que o governo estadual?
Soares -
Acho que ele tem muita pressa, vai com muita sede ao pote, optou por soluções rápidas que são mais fáceis. O enfrentamento mais profundo da questão poderia levar à perda de popularidade. Se a prioridade é não perder popularidade a qualquer custo e ser muito rápido na passagem do governo para a presidência da República...

Folha - Em termos práticos, como afastar a banda podre?
Soares -
Não precisa prender ninguém. Há muitas razões administrativas para afastar policiais sem entrar na esfera criminal.



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