São Paulo, sexta, 20 de março de 1998

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DIÁRIO DE UM DETENTO
"Pobres sofrem injustiça"

MALU GASPAR
da Reportagem Local

Eles estão presos junto com outros 22 homens numa cela do 3º DP (Distrito Policial), em São Paulo. A cela foi apelidada de "seguro" pelos policiais da delegacia. É onde, segundo eles, estão os menos perigosos.
José Zeferino dos Santos Júnior, 20, está preso há três meses, acusado de receptação e de formação de quadrilha. É sua primeira prisão.
Leomir Vicente da Silva, 25, está preso pela segunda vez, pela segunda vez acusado de roubo. Da primeira, aos 21 anos, também ficou preso por roubo por oito meses.
Os dois são exemplos do perfil médio do preso brasileiro. Moram na periferia de grandes cidades -um em São Paulo e outro em Belo Horizonte. São brancos, como 48% da população carcerária brasileira. Ambos têm baixa escolaridade. Não cansam de repetir que são inocentes.
Para eles, o motivo de tantos jovens nessa idade estarem presos é o preconceito e a incompetência da polícia. "Eles são injustos e preconceituosos com o pobre", diz Santos.
Assim como Silva, ele espera julgamento e tem certeza de que será absolvido.
Preso em dezembro passado, Santos trabalhava como camelô e morava em Santo Amaro (zona sul de São Paulo). Não terminou o primeiro colegial.
O companheiro de cela Leomir foi preso há seis dias. Diz que veio de Belo Horizonte para São Paulo em férias e que foi preso como "laranja", numa "armação". Mas admite que da primeira vez era culpado.
"Era bem mais novo e não estava com a cabeça no lugar. Acho que muitos jovens cometem crimes porque são rebeldes ou não têm dinheiro."



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