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DROGAS 2
Para psiquiatra, tendência é que paciente que substituiu crack por maconha acabe voltando ao vício anterior
Especialistas contestam `troca' de drogas
da Reportagem Local
A tese de que a maconha seria
uma droga ``curativa'', capaz de
ajudar dependentes a deixar o
crack -como conclui estudo da
Escola Paulista de Medicina-, é
contestada por especialistas ouvidos pela Folha.
``A substituição de uma droga
por outra não significa melhora'',
diz o psiquiatra Jorge Gomes de Figueiredo, especialista em dependência química e diretor da clínica
Vitória. Para ele, a tendência é que
os dependentes que passaram para
a maconha voltem ao crack.
``Mesmo usando apenas maconha, suas vidas não estarão resolvidas; eles continuarão lidando
mal com o trabalho, com a escola e
com suas famílias.''
Figueiredo -que consultou a
pesquisa do Proad pela Internet-
diz que, mais importante que a
quantidade de droga usada, são os
parâmetros sociais. ``O estudo não
diz se esses dependentes deixaram
de ser imprestáveis depois que
passaram a usar maconha'', afirma. ``Trata-se de uma pesquisa
claramente favorável à descriminação da droga e que repete chavões. É mentira que a liberação da
droga não aumenta o consumo.''
Jorge Figueiredo acredita que
daqui a um ano todos aqueles que
passaram para a maconha estarão
de volta ao crack.
A psiquiatra Patrizia Streparava,
presidente do comitê que trata de
uso e prevenção de drogas na Associação Paulista de Medicina e diretora do projeto Phoenix, diz que
é preciso saber o histórico de cada
paciente para poder avaliar os resultados da pesquisa.
``Não vejo razão para que o uso
da maconha leve alguém a deixar
de usar outra droga.'' Segundo ela,
não há um tratamento melhor que
o outro. O que conta no sucesso da
terapia são os componentes inerentes a cada paciente.
Segundo Patrizia, as melhores
clínicas de tratamento, no Brasil e
no exterior, conseguem recuperar
25% dos dependentes de droga. No
Proad, cerca de 35% dos pacientes
se livram da dependência, segundo seus psiquiatras. Entre os pacientes que estavam usando maconha, a porcentagem que deixou o
crack chegou a 70%, de acordo
com a pesquisa.
Dartiu da Silveira, diretor do
Proad, rebate as acusações de que a
pesquisa teria sido conduzida de
forma a fortalecer a tese da descriminação das drogas. A maioria das
instituições no Brasil -segundo
ele- são guiadas por dogmas e
não discutem fora deles.
``Os que trabalham com drogas
no Brasil são, a priori, preconceituosos. Não se pode fazer ciência
assim'', afirma.
Segundo Xavier, o resultado da
pesquisa é tão surpreendente que,
no mínimo, exige que novas pesquisas sejam feitas. ``É preciso aumentar o grupo estudado e acompanhá-lo por mais tempo'', diz.
(AURELIANO BIANCARELLI)
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