São Paulo, domingo, 20 de abril de 1997.

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DROGAS 2
Para psiquiatra, tendência é que paciente que substituiu crack por maconha acabe voltando ao vício anterior
Especialistas contestam `troca' de drogas

da Reportagem Local

A tese de que a maconha seria uma droga ``curativa'', capaz de ajudar dependentes a deixar o crack -como conclui estudo da Escola Paulista de Medicina-, é contestada por especialistas ouvidos pela Folha.
``A substituição de uma droga por outra não significa melhora'', diz o psiquiatra Jorge Gomes de Figueiredo, especialista em dependência química e diretor da clínica Vitória. Para ele, a tendência é que os dependentes que passaram para a maconha voltem ao crack.
``Mesmo usando apenas maconha, suas vidas não estarão resolvidas; eles continuarão lidando mal com o trabalho, com a escola e com suas famílias.''
Figueiredo -que consultou a pesquisa do Proad pela Internet- diz que, mais importante que a quantidade de droga usada, são os parâmetros sociais. ``O estudo não diz se esses dependentes deixaram de ser imprestáveis depois que passaram a usar maconha'', afirma. ``Trata-se de uma pesquisa claramente favorável à descriminação da droga e que repete chavões. É mentira que a liberação da droga não aumenta o consumo.''
Jorge Figueiredo acredita que daqui a um ano todos aqueles que passaram para a maconha estarão de volta ao crack.
A psiquiatra Patrizia Streparava, presidente do comitê que trata de uso e prevenção de drogas na Associação Paulista de Medicina e diretora do projeto Phoenix, diz que é preciso saber o histórico de cada paciente para poder avaliar os resultados da pesquisa.
``Não vejo razão para que o uso da maconha leve alguém a deixar de usar outra droga.'' Segundo ela, não há um tratamento melhor que o outro. O que conta no sucesso da terapia são os componentes inerentes a cada paciente.
Segundo Patrizia, as melhores clínicas de tratamento, no Brasil e no exterior, conseguem recuperar 25% dos dependentes de droga. No Proad, cerca de 35% dos pacientes se livram da dependência, segundo seus psiquiatras. Entre os pacientes que estavam usando maconha, a porcentagem que deixou o crack chegou a 70%, de acordo com a pesquisa.
Dartiu da Silveira, diretor do Proad, rebate as acusações de que a pesquisa teria sido conduzida de forma a fortalecer a tese da descriminação das drogas. A maioria das instituições no Brasil -segundo ele- são guiadas por dogmas e não discutem fora deles.
``Os que trabalham com drogas no Brasil são, a priori, preconceituosos. Não se pode fazer ciência assim'', afirma.
Segundo Xavier, o resultado da pesquisa é tão surpreendente que, no mínimo, exige que novas pesquisas sejam feitas. ``É preciso aumentar o grupo estudado e acompanhá-lo por mais tempo'', diz.
(AURELIANO BIANCARELLI)
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