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São Paulo, domingo, 20 de abril de 2003

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Abrigo de crianças busca prevenção

DA REPORTAGEM LOCAL

Com quatro anos, quando ingressou no Lar das Crianças, em São Paulo, Lívia [nome fictício" costumava "desligar". De repente, interrompia o que estava fazendo e começava a olhar para o vazio. Não adiantava chamá-la. Nada a arrancava do alheamento.
Volta e meia, também entrava em crise nervosa. Chorava durante 40, 50 minutos, sem nenhuma razão significativa.
O pai -um camelô de baixa renda- sofria de depressão. Colocou a filha no abrigo por não ter onde deixá-la enquanto trabalhava. Ali, a garota passava todo o dia. À noite, seguia para casa.
Perto dos oito anos, manifestou sérias dificuldades motoras e se revelava incapaz de amarrar os próprios sapatos. Aos nove, perdeu o pai, assassinado. A morte a abalou profundamente, tornando-a ainda mais triste e silenciosa.
Hoje, Lívia tem dez anos. Continua no Lar das Crianças e, não raro, "desliga". A diferença é que, agora, se submete à psicoterapia.
"De uns tempos para cá, percebemos que devíamos priorizar a prevenção e o tratamento precoce de problemas emocionais em nossos internos. A maioria, afinal, advém de famílias pobres, desestruturadas e muitas vezes violentas", explica Tomas Freund, coordenador da instituição. Fundado em 1937, o lar se localiza na zona sul e pertence à Congregação Israelita Paulista. Atende gratuitamente cerca de cem meninos e meninas, com idade mínima de quatro anos e máxima de 17.
Embora siga as tradições judaicas, acolhe adeptos de diversas orientações religiosas. Há décadas, recorre à assessoria de psicólogos. Em abril de 2001, no entanto, resolveu intensificar os cuidados com "a saúde mental da molecada", como diz Freund. Lançou mão, assim, do auxílio de uma psiquiatra infantil, que avalia os "casos mais inquietantes".
Depois de minucioso exame, a especialista não diagnosticou nenhum transtorno em Lívia. Mas lhe recomendou as sessões psicoterápicas de apoio.
Além da garota, o lar enviou dois meninos para a apreciação da médica. Um apresenta sintomas de esquizofrenia. O outro garoto, vítima de agressões domésticas, mostra-se excessivamente irritado. (AA)

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