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São Paulo, domingo, 20 de abril de 2003

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Especialistas refletem sobre pesquisa da USP

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma psicanalista e uma psicóloga -as duas com experiência no tratamento de crianças e adolescentes- refletem, abaixo, sobre a pesquisa dos psiquiatras Bacy Fleitlich Bilyk e Robert Goodman:
Monica Seincman, professora do Centro de Estudos Psicanalíticos, em São Paulo - "O trabalho é, sem dúvida, muito relevante, porque oferece subsídios para que se pense a saúde mental dos mais jovens sob a ótica epidemiológica. Ocorre que a psicanálise busca sempre relativizar os diagnósticos. Enxerga cada pessoa como um ser único, singular.
Às vezes, pelos critérios da CID-10, um menino se revela hiperativo. Isso não significa, no entanto, que necessite de tratamento.
A doença, de acordo com a psicanálise, só existe quando o paciente sofre. E o tratamento se justifica apenas quando o paciente deseja parar de sofrer.
Assim, caso aquele garoto faça parte de uma família que lhe dá condições de exercer a hiperatividade, não haverá drama. Agora, se vive num ambiente que privilegia a ordem, as chances de ele se angustiar e sofrer aumentam.
Outra seara que merece ponderações é a dos transtornos de comportamento. Realmente, a CID-10 os define, mas convém encará-los de maneira ampla. Não basta lhes conferir a pecha de doença sem meditar sobre o que significam.
Tais distúrbios, no fundo, espelham nosso tempo. Retratam uma sociedade que se mostra confusa em relação a limites."
Maria Cristina Vicentin, psicóloga e professora da PUC-SP - "Pesquisas dessa natureza nos convidam a reparar melhor em meninos e meninas. Lembram-nos que a garotada sofre, sim, e que às vezes precisa de ajuda.
Há, entretanto, o risco de tomarmos por patológicas condutas que podem ser apenas experiências de crescimento, tentativas de os jovens se diferenciarem. Se chamarmos toda rebeldia ou toda tristeza de doença, estaremos retrocedendo num ponto fundamental: aquele que considera crianças e adolescentes como sujeitos em condições peculiares de desenvolvimento.
Existe, ainda, o risco de transferirmos para a área médica tarefas que são da família, dos professores. Devemos ter o cuidado de não substituir intervenções pedagógicas por medidas psiquiátricas, criando álibis que nos desresponsabilizem de educar nossos filhos."

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