São Paulo, sábado, 20 de maio de 2000


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Professor ferido em protesto já foi policial militar

DA REPORTAGEM LOCAL

Ronaldo Ferreira dos Santos, 37, perdeu o dedo indicador direito no confronto entre servidores do Estado e a PM anteontem na avenida Paulista. Ele ensina língua portuguesa e inglês há quatro anos em Guarulhos, mas já esteve do outro lado. Por três anos e meio, atuou no 2º Batalhão da Tropa de Choque em São Paulo.
Santos conta que deixou o trabalho policial por causa "da agressividade e do autoritarismo". "Fui estudar: fiz o colegial, a faculdade e comecei a ensinar. É melhor ser professor, eu adoro e o salário é maior", afirma.
O professor disse que, quando era policial, nunca precisou repreender manifestações. "Sempre me falaram para eu sair da polícia, porque era muito educado."
Para ele, a atitude da PM no protesto foi "péssima", mas se justifica porque os policiais são "doutrinados e têm que fazer o trabalho, porque o comando vem de cima".
Santos culpa a PM pelo início do confronto, que teve um saldo de 38 feridos, segundo a Secretaria da Segurança Pública. Ele não acha que os servidores exageraram, mas que reagiram ao ataque.
Segundo ele, eram muitos manifestantes e não foi possível permanecer apenas numa pista da avenida Paulista. "Deviam ter permitido que ocupássemos a outra pista", reclama.
Santos conta que foi atingido na mão direita por uma bomba de efeito moral, ao tentar desviá-la do rosto. Depois de se submeter a uma cirurgia e perder o dedo indicador, o professor disse que não sabia como conseguiria trabalhar.
"Nós temos advogados da Apeoesp e quero saber como vou dar aula com a mão estourada assim", disse Santos, que está internado no Hospital do Servidor Público Estadual.
O professor de Guarulhos não foi o único que ficou com sequelas sérias do embate com policiais. O fotógrafo do jornal "Agora São Paulo" Alex Silveira sofreu traumatismo na região temporal e teve comprometimento no olho esquerdo ao ser atingido por uma bala de borracha.
O boletim médico divulgado pelo Hospital das Clínicas diz que o fotógrafo deverá ser submetido a uma cirurgia na segunda-feira, porque foi diagnosticada a existência de alterações na retina do olho esquerdo de Silveira. Até a noite de ontem, ele contava apenas com 15% da visão.
Segundo a PM, o fotógrafo foi atingido por estilhaços de bomba.


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