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São Paulo, terça-feira, 20 de maio de 2003

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Polícia Federal acusa donos de viações de orquestrar greves; funcionários da SPTrans também serão investigados

Delegado diz ter provas contra empresários

DA REPORTAGEM LOCAL

A força-tarefa responsável pela prisão de sindicalistas ontem elegeu os empresários de ônibus de São Paulo como os próximos alvos das investigações. A Polícia Federal disse já ter até uma lista dos donos de viações suspeitos de participar de um esquema de pagamento de propina para a realização de paralisações no setor. Eles também podem ter a prisão temporária decretada.
"Já temos provas suficientes do envolvimento dos empresários, provas testemunhais", afirmou Nivaldo Bernardi, delegado da Polícia Federal. "Já podemos afirmar que os empresários orquestraram as greves", disse. Segundo ele, alguns empresários foram citados pelos sindicalistas presos.
"Os empresários estão num jogo de interesses com os sindicalistas", afirmou José Carlos Blat, promotor do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado).
Ontem, durante a prisão de Edivaldo Santiago, presidente do sindicato dos condutores, também foram presos dois homens que faziam a segurança dele, mas que são funcionários da viação Campo Belo. São eles: Carlos Salvador da Silva e Aparecido Roberto Mazetti, que foram enquadrados por porte ilegal de armas.
A Campo Belo pertence à família Ruas, líder do transporte paulistano e dona de 30% da frota de ônibus de São Paulo.
Paulo Ruas, filho de José Ruas Vaz e representante do grupo, disse à Folha não saber que esses funcionários pagos pela Campo Belo atuavam como seguranças de Santiago. Segundo ele, os sindicalistas pedem licenças médicas ou são afastados para exercer funções no sindicato, conforme previsto na convenção coletiva da categoria. "Às vezes eles pedem licença médica, pedem afastamento, trazem atestados", disse Ruas.
"Por vezes eles pedem o afastamento de alguns motoristas para fazer um trabalho pelo sindicato, que eles têm direito por uma cláusula da convenção trabalhista. (..) Mas eu não imaginava que fosse assim [que eles atuavam como seguranças de Santiago]. Foge do nosso conhecimento e do nosso controle", completou Paulo Ruas.

Poder público
A força-tarefa também deverá aprofundar as investigações de servidores públicos. Um dos principais objetivos é identificar no que foi gasta a verba que a prefeitura injetou na viação Cidade Tiradentes, que estava sob intervenção e cujo atual dono, Samy Jaroviski, está preso sob a acusação de estelionato e de integrar uma quadrilha especializada em desviar dinheiro de empréstimos.
O total injetado nela, em seis meses, atinge R$ 17 milhões, diz a SPTrans. O destino do dinheiro é investigado há três meses.
"Não há organização criminosa que sobreviva sem a participação de funcionários públicos. Estamos investigando a participação de pequenos escalões da SPTrans na concessão de dinheiro para as intervenções", disse Blat. Sobre possíveis locautes, Bernardi disse: "São fatos gravíssimos. Na investigação verificou-se a existência de inúmeros crimes e de uma relação criminosa de empresários, sindicalistas e poder público".
O promotor Silvio Antonio Marques disse que deu um prazo até sexta para a SPTrans apresentar os extratos de onde foram gastos os recursos injetados na Cidade Tiradentes. A SPTrans informou que fornecerá todos os documentos pedidos. (AI E SI)


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