São Paulo, quarta, 20 de agosto de 1997.



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DROGAS
Pesquisa revela aumento do consumo de tranquilizantes no decorrer do curso
25% dos alunos de medicina usaram maconha

da Reportagem Local

Pesquisa realizada em 1995 entre alunos de nove escolas de medicina do Estado de São Paulo mostra que 25% deles já experimentaram maconha.
Ao todo, foram ouvidos 3.725 estudantes (72%), de um total de 5.225 matriculados. Além de maconha, 4,71% afirmaram já ter experimentado cocaína.
Cerca de 16% dos estudantes disseram ter fumado maconha durante o ano anterior à pesquisa. Afirmaram ter usado cocaína no último ano, 2,8% dos alunos.
A pesquisa foi coordenada pelo Grea (Grupo de Estudos Sobre Alcoolismo e Drogas), ligado ao Instituto de Psiquiatria de Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).

Tranquilizantes
A pesquisa também demonstrou o aumento do consumo de tranquilizantes no decorrer do curso.
Apenas 9% dos alunos de primeiro ano afirmaram ter experimentado tranquilizantes.
O consumo aumenta para 20%, entre os alunos do sexto ano de medicina.
De acordo com a médica Maria Paula Magalhães, que coordenou a pesquisa na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o consumo de tranquilizantes aumenta devido ao estresse do curso.
Por isso, é maior a partir do terceiro ano, quando o estudante começa a frequentar o hospital, e a partir do quinto, quando tem regime de internato, com plantões.
Segundo Magalhães, o aumento do consumo dessas substâncias é maior entre as mulheres.
Já para as demais drogas e para o álcool e tabaco, o consumo é maior entre homens.
De acordo com Magalhães, também surpreendeu o elevado consumo de solventes, como benzina e lança-perfume, entre os estudantes, maior que o de maconha.
Para a médica, esse consumo de solventes está ligado a atividades culturais, como viagens em jogos universitários e festas.
A pesquisa também relaciona os principais fatores de risco para o aluno se tornar usuário de álcool, cigarro e drogas.
Entre eles estão o fato de ser homem, morar sozinho, ter todo o tempo livre nos finais de semana, considerar o próprio desempenho escolar fraco e aprovar o uso regular das substâncias.
Para o professor Arthur Guerra de Andrade, coordenador do Grea, o fato de um aluno de medicina beber ou usar drogas com frequência pode prejudicar suas atividades profissionais.
Andrade exemplifica com o uso de álcool. "Não é impeditivo ao médico beber. Mas quando ele começa a beber muito, o referencial passa a ser ele mesmo".
De acordo com Andrade, o maior problema desses médicos é diagnosticar ou tratar o alcoolismo. "Se o paciente bebe o mesmo tanto que ele, o médico passa a não considerar isso um problema".
Segundo Guerra, o principal objetivo da pesquisa é orientar programas de prevenção do uso de drogas entre os estudantes.

Metodologia
Para a realização da pesquisa, as escolas montaram um consórcio, responsável por levantar os dados.
Em cada escola, foram passados questionários, nas salas de aula.
Os demais não preencheram o questionário porque não estavam nas salas de aula no momento da pesquisa. Outros questionários, entregues em branco, também foram desconsiderados.
Para o médico Arthur Guerra de Andrade, do Grea, não é possível afirmar, baseado em pesquisas anteriores feitas apenas na USP, se o consumo de drogas está aumentando entre os estudantes.
(ANDRÉ MUGGIATI)


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