|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Empresário era avesso à exposição pública; ligação afetiva com companhia impediu parceria com grupos estrangeiros
Schincariol admitia obsessão pelo trabalho
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Avesso à exposição pública, José
Nelson Schincariol, ou Nelsão como os funcionários o chamavam,
era o homem de frente da Schincariol. Ele cuidava do caixa da
empresa, tomava as decisões estratégicas e já preparava os sobrinhos e os dois filhos para a sucessão na companhia.
Simples, informal nos trajes e
sem diploma universitário, assumiu a frente da companhia nos
anos 80, após a morte do pai, o italiano Arthur Primo Schincariol,
fundador da companhia.
Na sua própria avaliação, era
obcecado pelo negócio. Tinha como meta tornar a empresa dona
de 12% do mercado de cervejas
num curto espaço de tempo.
Duas características são citadas
por conhecidos: a discrição e a teimosia, em alguns momentos. Segundo um executivo de uma rede
de supermercados, ele sempre foi
"turrão" nas negociações de preço com o comércio.
Já os funcionários o viam como
uma pessoa simples. Segundo
Antonio de Oliveira, que é eletricista na unidade de Itu desde
1989, chamava a atenção a dedicação do empresário -principalmente quando a empresa começou a fabricar cerveja. "No começo das atividades, o senhor Nelson costumava ser visto carregando caixas de cerveja. Ele não era
um empresário de escritório, gostava de pôr a mão na massa."
Sucessão
Aos poucos, o empresário preparava os filhos Alexandre, 28, e
Adriano, 26, formados em administração de empresas, e seus três
sobrinhos -filhos do irmão Geraldo- para comandarem o grupo nas próximas décadas.
Discreto, dizia publicamente
que não queria se afastar do negócio logo. Nunca tirou férias, de
acordo com o relato de funcionários dado ontem. O vínculo emocional com o trabalho, segundo
analistas de mercado que acompanham o setor de bebidas, era tamanho que isso chegou a impedir
a entrada de parceiros estrangeiros no negócio nos anos 90.
Na última inauguração de uma
fábrica da empresa, em Caxias
(MA), comandou uma prece em
agradecimento. Isso em frente a
um grupo de 100 funcionários de
mãos dadas. O ritual se repetia em
cada nova abertura de fábrica da
companhia. Hoje, são seis.
Assim como a família, o executivo era dado a poucos luxos. Seguindo a cartilha da família, evitava tomar empréstimos em bancos
para manter o negócio.
Colaborou a FOLHA CAMPINAS
Texto Anterior: 5.000 acompanham o enterro de Schincariol Próximo Texto: Empresa perde mercado, mas faz barulho na mídia Índice
|