São Paulo, Quarta-feira, 20 de Outubro de 1999
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Crescimento é maior na hora de folga

da Reportagem Local

O crescimento do número de civis mortos pela Polícia Militar foi maior no período de folga do policial do que durante seu horário de serviço como PM.
Nas folgas, quando a maioria dos policiais faz bico como segurança, foram mortas 69 pessoas entre julho e setembro deste ano, 81,6% a mais do que no mesmo período do ano passado (38).
Em serviço, PMs mataram 109 pessoas -62,7% a mais do que no mesmo trimestre de 98 (67).
"Para mim, esses dados revelam que o policial estava fazendo bico, como segurança, por exemplo. E que levou para os trabalhos extras a mesma filosofia de violência da corporação", afirmou o ouvidor Benedito Mariano.
A mesma situação se repete com os policiais civis. Apesar de apresentarem um número inferior de vítimas durante esse trimestre (24 pessoas, segundo a ouvidoria), a metade delas foi morta por policiais que estavam de folga -140% a mais do que no mesmo período de 98 (com 5 mortos).
"É um quadro grave que revela que policiais, tanto civis quanto militares, estão matando mais fora de serviço. Quem mais sofre com isso é a população pobre, que não tem como se defender", disse Mariano.

Jovens e sem passagens
Dados da ouvidoria revelam que a maioria das vítimas da Polícia Militar e da Polícia Civil é composta de jovens, boa parte sem antecedentes criminais.
Das 202 pessoas mortas pelas duas polícias, entre julho e setembro deste ano, cerca de 115 (57,14%) não tinham antecedentes criminais. Na Polícia Militar, por exemplo, das 178 vítimas, 167 foram registradas como casos de resistência seguida de morte.
"É difícil acreditar que todas essas pessoas tenham, pela primeira vez, entrado em confronto com a polícia", afirmou Mariano.
A idade das vítimas, segundo ele, também é preocupante.
Jovens de 18 a 25 anos representam cerca de 70% das vítimas da polícia.
"Em outras pesquisas anteriores da ouvidoria, esses jovens nunca passaram de 50% do total de vítimas", disse.
Para Dyrceu Cintra, ex-presidente da Associação Juízes para a Democracia, esses dados da ouvidoria deveriam ser investigados por um órgão independente.
"É preciso compreender por que a polícia mata tanto fora de serviço e qual a circunstância da morte dessas pessoas. Já constatamos isso há tempos, mas o difícil é comprovar as circunstâncias das mortes", afirmou Cintra.







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