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SAÚDE BUCAL
Somente 4,31% dos procedimentos realizados são de alta complexidade; adolescentes e adultos são excluídos
Assistência estatal é limitada a extrações
DA REPORTAGEM LOCAL
Resumo de uma dívida de 50
anos do Estado com a saúde bucal
dos brasileiros: no horário nobre,
atrizes globais anunciam, em uma
atmosfera de glamour, fixadores e
limpadores de dentaduras.
"Sabemos que a cada 4 brasileiros que completam 60 anos, 3 não
têm um dente na boca", afirma o
coordenador de Saúde Bucal do
Ministério da Saúde, Gilberto Alfredo Pucca Júnior. Os dados são
de São Paulo, da tese de doutorado defendida por Pucca Júnior
em 1998, mas ele afirma que podem ser projetados para o restante do país. "É escandaloso. O desafio é estender a universalidade e
a integralidade a todos."
Nunca houve uma política de
saúde bucal ampla. Historicamente, adolescentes, adultos e
idosos foram excluídos dos programas governamentais, iniciados na década de 50, com uma
ação para escolares em Aimorés
(MG), em 1951, e a fluoretação em
Baixo Guandu (ES, 1953). Os dois
trabalhos foram desencadeados
pelo Sesp (Serviço Especial de
Saúde Pública).
Desde aquela época, aos jovens
e adultos o Estado oferece uma assistência limitada, baseada em extrações e algumas restaurações.
Cultura que não mudou após a
criação do SUS (Sistema Único de
Saúde), em 1988.
Só 4,31% dos procedimentos
odontológicos realizados para o
conjunto da população são de alta
complexidade (tratamento de canal, periodontia, por exemplo).
No primeiro semestre de 2002, isso correspondeu a 3,3 milhões de
procedimentos.
Quase 30 milhões de brasileiros
jamais tinham visto a cara do dentista em 1998, dado do IBGE. Isso
apesar de o país ter o maior número absoluto de dentistas do
mundo (187,2 mil) e uma das melhores relações dentistas/por grupo de habitantes -superior ao
recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e de países como os EUA, Canadá, Austrália, França, Inglaterra e Japão.
"A saúde bucal só ganhou status
normativo com a Noas (Norma
Operacional de Assistência) de
2001, quando define-se que é parte integrante e individual da assistência básica", afirma Carlos
Henrique Goretti Zanetti, coordenador do curso de especialização
em Saúde Coletiva da UnB.
Para ele, a falta de priorização
do setor também pode ser explicada por escolhas da odontologia
brasileira, que optou por ser uma
corporação autônoma, e não uma
especialidade da medicina como
em países da Europa. "A corporação médica soube ocupar postos
do poder." Ele aponta ainda que a
alta rentabilidade dos consultórios afastou profissionais de hospitais, do serviço público, isolando-os na atividade autônoma.
Em um de seus trabalhos, o ex-coordenador de saúde bucal de
São Paulo e Santos Marco Manfredini aponta que o próprio modelo da assistência, ao tratar só
crianças, não incorpora segmentos populacionais com maior capacidade de pressão.
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