São Paulo, Sexta-feira, 21 de Janeiro de 2000


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Municípios com surto da doença têm focos do mosquito Aedes

DANIELA FALCÃO
da Sucursal de Brasília

Pelo menos 30% dos municípios dos três Estados que registraram surto de febre amarela silvestre em 99 -Pará, Tocantins e Goiás- têm focos do Aedes aegypti, mosquito que transmite a dengue e a versão urbana da febre amarela.
A situação é mais crítica em Goiás, onde seis pessoas contraíram febre amarela silvestre entre setembro e dezembro passados (entre elas dois turistas do Distrito Federal e uma do Rio de Janeiro) e outras 11 aguardam exames para confirmar a doença.
Dos 242 municípios goianos, 82% apresentam focos do Aedes aegypti -uma das mais altas taxas de infestação do país .
A combinação de surtos de febre amarela silvestre com infestação do Aedes no mesmo Estado é perigosa porque pode provocar a volta da febre amarela urbana, erradicada do país desde 42.
O Ministério da Saúde considera "muito remota" a chance de a doença se reurbanizar, mas recomenda que a vacinação contra febre amarela seja intensificada nos Estados que apresentarem surtos da versão silvestre.
As 70 vítimas da febre amarela silvestre no Brasil em 99 foram infectadas em florestas pelo mosquito Haemagogus, que transmite a doença a humanos depois de picar macacos infectados.
O Haemagogus só é encontrado em áreas de floresta, como na Chapada dos Veadeiros (GO), onde os três turistas foram infectados em dezembro passado.
Já o Aedes aegypti, que é um mosquito urbano, também pode ser transmissor da febre amarela urbana. Para que isso aconteça, precisa picar alguém que esteja infectado e, depois, picar alguém que não tenha sido imunizado.
"Há uma chance estatística de isso acontecer, mas a probabilidade é muito pequena", diz Paulo Vilarinhos, gerente de Febre Amarela e Dengue da Funasa (Fundação Nacional da Saúde), órgão federal responsável pelo combate ao Aedes. De janeiro de 98 a outubro de 99, 25 milhões de pessoas foram vacinadas contra a doença, sobretudo nas regiões Norte e Centro-Oeste e no Maranhão, onde se concentra a maioria dos casos de febre silvestre.
Os municípios com infestação de Aedes aegypti pularam de 1.791 em 95 para 3.534 no ano passado. O aumento de 97,3% no número de cidades com presença do mosquito ocorreu apesar de as verbas federais para o combate ao Aedes terem crescido.
Em 97, quando o PEA (Plano de Erradicação do Aedes aegypti) foi colocado em prática, 935 municípios receberam R$ 248,5 milhões para combater o mosquito. No ano passado, 3.931 cidades foram beneficiadas pela verba federal, que chegou a R$ 303,8 milhões -um crescimento de 22,5%.
Para Vilarinhos, há duas hipóteses para explicar o aumento do número de municípios com focos do mosquito.
A primeira é que, em boa parte dos municípios, o Aedes possa ter adquirido resistência ao Temephós -inseticida usado para matar larvas do mosquito. Pesquisa encomendada pela Funasa em 22 municípios detectou que em sete cidades fluminenses e duas paulistas as larvas do Aedes apresentavam resistência ao Temephós.


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