São Paulo, quarta-feira, 21 de janeiro de 2004

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URBANIDADE

Expedição Gepp e Maia

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

Os desenhistas José Roberto Maia e Haroldo George Gepp -mais conhecidos como a inseparável dupla Gepp e Maia- aceitaram o desafio de guiar por um ano uma expedição de 1.200 pessoas, a maioria adolescentes de escolas públicas, pelas regiões leste, oeste, norte e sul da cidade de São Paulo. De repente, perceberam, surpresos, que estavam sendo guiados. "Redescobri a cidade", diz Maia.
Famosos, entre outras coisas, pelos seus bem-humorados mapas da cidade de São Paulo, Gepp e Maia descobriram, por exemplo, que em um parque da zona leste japoneses cultivam cerejeiras, reverenciadas anualmente em uma cerimônia religiosa. Tomaram contato com rituais indígenas na zona sul e com indivíduos que preservam animais silvestres nas margens do rio Tietê. Levados pelas mãos dos adolescentes, ao percorrer favelas na Vila Maria, na zona norte, depararam-se com cachoeiras. "A maior surpresa foi ver como os estudantes aprenderam tanto e em tão pouco tempo", admira-se Gepp.
Em um projeto concebido pelo Sesc Itaquera, os dois comandaram a tropa de 800 alunos, 200 professores das mais diferentes matérias, além de monitores, munidos de câmaras fotográficas. A partir dessas fotos, iriam fazer uma imensa maquete da cidade, comemorativa dos 450 anos. "Tinha medo de que tocaríamos um projeto com estudantes e professores desmotivados", conta Maia.
O resultado da expedição foi apresentado no último domingo, desfazendo os medos de fracasso. Tamanho foi o empenho -afinal, professores e alunos fizeram da cidade uma sala de aula- que a maquete teve de ser ampliada para 100 m2. É a maior maquete já feita de São Paulo.
Nem sempre as discussões entre os estudantes eram tranquilas ou pacíficas. Um dos meninos responsáveis por fazer o estádio do Corinthians é palmeirense e quis deixar sua paixão registrada no território inimigo. Na arquibancada, no lugar de torcedores, preferiu colocar patos. Cedeu, um tanto contrariado, aos argumentos do grupo de que aquelas imagens seriam ofensivas. Admitiu que não queria ser retaliado por um corintiano que inundasse o Parque Antarctica com porcos.
Os bichos serviram, porém, para fazer uma sutil crítica à selvageria paulistana. No zoológico, há uma peculiaridade -os bichos estão todos soltos. E os homens e mulheres, enjaulados.

E-mail - gdimen@uol.com.br


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