São Paulo, sábado, 21 de fevereiro de 1998

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SAÚDE
Cirurgia, realizada em SP, é o 1º transplante do órgão entre adultos vivos não parentes na América Latina
Marido doa parte do fígado para mulher

da Reportagem Local

O Hospital Sírio Libanês (região central de SP) realizou o primeiro transplante de fígado em um adulto usando parte de um órgão de um doador vivo não parente.
A experiência -inédita na América Latina- foi considerada um sucesso porque os dois passam bem desde novembro, quando a cirurgia foi realizada.
A enfermeira Fátima Rocha Lopes, 31, corria riscos de vida porque seu fígado estava comprometido por uma hepatite crônica.
Como, apesar do grande risco, não havia doador cadáver e ninguém da família se enquadrava nos critérios médicos (o doador não pode ser muito idoso nem estar doente), o marido de Fátima, Roberto Lopes, se ofereceu para ser o doador.
Foi a primeira vez que uma doação de um fígado entre pessoas vivas adultas é feita com sucesso. Até agora só eram realizados transplantes desse tipo em crianças. O problema é que, diferentemente do transplante do rim, o risco para o doador é muito maior.
"O caso do rim é mais fácil porque uma pessoa tem dois rins. Você retira um inteiro e o outro fica. Mas, como o fígado é uma coisa só, o risco pode existir se o pedaço retirado for grande demais, por exemplo", diz o chefe da equipe de transplantes de fígado do Hospital das Clínicas, Silvano Raia.
No caso de transplante para crianças, o doador adulto não chega a retirar 10% do seu fígado. Mas os adultos precisam de muito mais. "Retiramos a parte esquerda do fígado de Ricardo, que corresponde a 40% do seu rim", afirma Eduardo Carone, responsável pelo transplante de Fátima, no Sírio.
O rim é mais fácil de ser doado do ponto de vista do tamanho do órgão. Mas, em relação à compatibilidade, o doador do fígado só precisa ter o mesmo tipo sanguíneo do receptor.
Por isso, o marido de Fátima pôde doar parte de seu fígado para a mulher. "Ela (Fátima) vivia no hospital nos últimos seis meses até que o quadro começou a piorar. Os médicos pensaram na doação feita com um doador vivo, mas ninguém da família podia. Foi então que me ofereci", diz Roberto.
O marido de Fátima diz que, uma semana após a cirurgia, voltou ao trabalho. "Estou tão bem que recomendo que qualquer pessoa seja doador. Já voltei até a beber o meu uísque", diz.
Por causa desse sucesso, Roberto afirma que vai começar uma campanha para ajudar todos os candidatos a doador.
"Quero reunir os doadores e fazer uma associação." E acrescenta: "Também vou receber a visita de qualquer um que queira tirar dúvidas".
O Sírio Libanês já está analisando um segundo paciente, que também poderá sofrer um transplante de fígado desse tipo.



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