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Universidade faz acordo com credores e alonga pagamento de R$ 125 milhões em precatórios vencidos desde 97
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USP atrasa dívidas para tocar dia-a-dia
DA REPORTAGEM LOCAL
A USP -maior universidade
do país-, com orçamento previsto de R$ 1,024 bilhão para este
ano, vai atrasar o pagamento de
dívidas judiciais para poder manter em dia contas de água, luz, telefone, limpeza, vigilância, restaurantes universitários e bibliotecas.
Se pagasse, além dos salários,
todos os precatórios vencidos
desde 1997, a direção da universidade ficaria sem sobras para investimentos e para gastos com a
manutenção das instalações e
compras.
Junto com as aposentadorias, os
precatórios e os gastos com hospitais fazem o tripé do buraco financeiro das universidades. USP,
Unesp e Unicamp têm dívidas judiciais e mantêm hospitais e centros de referência de saúde, cujo
atendimento cresce anualmente,
mas os repasses do SUS não vêm
acompanhando.
Segundo dados da reitoria da
USP, no início do ano, a universidade previa R$ 804 milhões para
salários e R$ 118 milhões para custeio e investimento. Haveria uma
margem manobrável de R$ 102
milhões (reserva de ajuste). Isso já
seria insuficiente para pagar os R$
125 milhões em precatórios vencidos desde 1997.
Com o reajuste de 7% e mais o
abono de 18% de abril para professores e funcionários, a universidade entrou na reserva de ajuste
e reduziu ainda mais o dinheiro
para saldar as dívidas.
Resultado? "Tivemos que negociar com os credores dos precatórios trabalhistas, que são professores e funcionários que ganharam ações na Justiça", disse o reitor Jacques Marcovitch.
"Essas dívidas foram contraídas
ainda pelo Estado. Mas, na época
da autonomia, herdamos também esses passivos", afirmou.
A autonomia financeira e administrativa foi garantida às universidades de todo o país na Constituição de 1988. A autonomia das
universidades paulistas foi regulamentada em lei no ano seguinte.
Foram definidos percentuais de
repasses de verbas do Estado, e a
administração, assim como as definições e decisões pedagógicas,
ficaram a cargo das universidades. Por isso que, hoje, nas discussões salariais, os grevistas negociam com o conselho de reitores,
presidido pelo reitor da USP.
Mas a autonomia transferiu
também as dívidas com professores e funcionários que foram à
Justiça pedindo incorporações salariais pelo trabalho noturno e recuperação de perdas do planos
econômicos do passado -Cruzado 1 e 2, Bresser, Verão...
Essa bola de neve chegou aos R$
125 milhões. Detalhe: a dívida está
toda vencida. Teoricamente, a
USP teria de pagá-la agora sob pena de intervenção estadual.
Houve uma negociação. A universidade e os credores chegaram
a um acordo e alongaram o perfil
desses pagamentos.
"Primeiro passo foi conseguir
inverter a ordem dos pagamentos. Assim vamos pagar primeiros
os precatórios de menor valor para depois saldar as dívidas maiores", explicou o reitor.
Uma parcela de R$ 6 milhões foi
paga neste semestre e outros R$
16 milhões serão saldados até dezembro. O "papagaio" foi empurrado para o próximo ano.
"Dá para pagar"
A associação dos docentes contesta os cálculos da reitoria, porque são feitos a partir do orçamento previsto para a universidade, mas os repasses vêm do valor
real arrecadado pelo ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).
"O orçamento previsto é uma
peça de ficção. Com os cálculos
sobre o orçamento repassado, é
possível cobrir os gastos e garantir
o reajuste aos servidores", diz
Marcos Magalhães, presidente da
Adusp.
O valor previsto de arrecadação
total de ICMS no Estado para os
quatro primeiros meses era de R$
6,311 bilhões. Mas até agora os desempenho vem superando a previsão e a arrecadação chegou, segundo dados da USP, a R$ 6,512
bilhões.
Abril foi o melhor mês, com
previsão de R$ 1,5 bilhão e arrecadação de R$ 1,7 bilhão.
"E todo mundo aponta para o
crescimento da economia. Até o
governo fala em 3%. Essa arrecadação, portanto, tende a se manter nesse patamar e até aumentar", disse Francisco Miraglia, vice
na Adusp.
Além disso, o Fórum das Seis
-que reúne os sindicatos de funcionários e professores das três
universidades- fez uma projeção com base na média dos orçamentos realizados nos quatro últimos anos. Segundo o cálculo
pessimista que projeta inflação de
6% e crescimento da economia
em 1%, ainda assim seria possível
bancar o reajuste de 25% pleiteado pelos servidores.
"Isso é uma temeridade. Amanhã ou depois, uma recessão ou
uma crise internacional derruba
nossa economia, como já aconteceu recentemente, e como iremos
pagar os salários? Não podemos
assumir compromissos que não
temos certeza de que podemos
cumprir", disse o reitor da USP.
O vice da Adusp rebate também
esse argumento. "Se eles acham
que é uma temeridade o comportamento futuro da economia, como anunciaram na última negociação um aumento de 3,75% para janeiro?"
"Uma recessão ou crise que derrube nossa economia vai quebrar
o orçamento com 11% (7% já dados mais 3,75% em janeiro) ou
com 25%", completou o dirigente
da Adusp.
(ESTANISLAU MARIA)
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