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Orçamento da USP aumentou 37,7% entre 2005 e 2008
Verba destinada à universidade passou de R$ 1,8 bilhão para R$ 2,5 bilhões; previsão para este ano é de R$ 2,8 bilhões
Integrante da comissão de orçamento da universidade afirma que concessão de reajuste depende de margem de segurança
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Junte-se uma greve por salários com piquetes, assembleias
e muito, muito bate-boca. O
diagnóstico quase sempre sai
no piloto automático: "A USP
está falida". Errado. A USP está,
isso sim, na fase das vacas gordas. Entre 2005 e 2008 o orçamento da universidade deu um
salto de 37,7%. Foi de R$ 1,858
bilhão para R$ 2,560 bilhões. A
previsão para o ano de 2009 é
que entrem na universidade R$
2,816 bilhões -um quarto de
bilhão de reais a mais do que no
ano passado.
Só para comparar: trata-se de
cifra comparável à receita orçamentária de Estados inteiros,
como o Piauí (R$ 2,6 bi) ou Alagoas (R$ 2,8 bi). Ou de quase
duas vezes a receita de Tocantins (R$ 1,4 bi), ou ainda de 4,4
vezes o Acre (R$ 640 milhões).
A dinheirama que todo ano é
despejada na USP -e também
na Unicamp e Unesp, que juntas receberam R$ 2,6 bilhões
em 2008- deriva de uma disposição da Constituição paulista de 1988, segundo a qual as
universidades estaduais devem
receber um percentual fixo da
arrecadação do ICMS.
Cada vez que uma dona de
casa vai ao mercado e uma nota
fiscal é emitida, 5,0295% do total arrecadado com o imposto
cai nos cofres da USP.
Engenheiro agrônomo com
doutorado em economia, Joaquim José de Camargo Engler,
67, integra a Comissão de Orçamento e Patrimônio da USP
desde 1983 -há 26 anos, portanto. Acumula o cargo com o
de diretor administrativo e financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo. "Não há crise financeira na USP. A USP não está
falida. Ao contrário."
"Crescimento do consumo e
estímulos à arrecadação -como a Nota Fiscal Paulista- levaram a universidade à atual fase de expansão de receitas",
Engler explica. A coisa ficou
ainda melhor porque o número
de aposentados da USP (cujos
benefícios são pagos pelas receitas da própria universidade),
depois de conhecer um crescimento de 106% entre 1988 e
2003), estabilizou-se.
Prevê-se que, neste ano,
R$ 528 milhões saiam dos cofres da USP para pagamento
dos inativos. Outro R$ 1,9 bi está reservado para pagamento
dos funcionários e docentes da
ativa -dá um total de R$ 2,4 bi,
ou 86% do total que a universidade pretende recolher.
Em 2003, em um cenário
econômico bem mais sombrio
e sem os incentivos atuais à arrecadação, a folha de pagamento da universidade superou toda a receita. O jeito foi pedir
empréstimo aos bancos.
Crise global
Neste início de 2009, crise
econômica mundial, falências e
concordatas de gigantes como a
GM nos Estados Unidos, e já se
começou a falar em retração
das receitas da USP. Trata-se
de um desincentivo e tanto ao
pleito de reajuste salarial feito
pelas entidades de professores
e funcionários. "O problema é
que, uma vez concedido o reajuste, não se pode voltar atrás,
ainda que a arrecadação despenque. Por isso é que é tão importante manter uma margem
de segurança", diz Engler.
O próprio professor, entretanto, adverte que não há motivos -"ainda"- para pânico. Os
resultados dos meses de janeiro, fevereiro, março e abril desautorizam isso. Recolheram-se aos cofres da universidade
R$ 924 milhões. O orçamento
previa para o 1º quadrimestre
de 2009 repasse de R$ 939 milhões. Ficou R$ 15 milhões
aquém (um "troco", perto do
orçamento total). Ainda assim,
é 3,3% a mais do que os R$ 894
milhões que foram depositados
na conta da USP em igual período de 2008. "Isso é que é crise gostosa", brincou Engler.
Edson Nunes, pró-reitor de
planejamento da Universidade
Candido Mendes do Rio de Janeiro, considera que o comprometimento do orçamento da
USP com os salários é alto demais, mesmo antes de qualquer
reajuste salarial. "Numa universidade de pesquisa privada,
quando o percentual chega a
70%, já se começa a mudar o
planejamento."
Outros custeios
Na USP, o dinheiro que sobra
para outros custeios e investimentos equivale a R$ 385 milhões. No orçamento deste ano,
preveem-se gastos de R$ 85,7
milhões com moradia estudantil, bolsas-alimentação, creches
e outros apoios destinados a estudantes carentes, além de
apoio à saúde, refeições subsidiadas, clube poliesportivo,
monitorias e estágios.
A universidade também deverá gastar R$ 43 milhões em
contratos de vigilância e outros
R$ 36 milhões em limpeza.
E a pesquisa científica? Segundo o professor Engler, que
-repita-se- é também diretor
administrativo e financeiro da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, para
isso existem agências de fomento, como a Fapesp: "A universidade dá como contrapartida para o financiamento a excelência de seus quadros científicos, um ambiente propício,
funcionários qualificados. É
uma relação saudável".
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