São Paulo, domingo, 21 de junho de 1998

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EM CASA
Falta de apoio leva adolescentes a ócio

da Reportagem Local

A falta de incentivo da família e da sociedade é um dos fatores que estimula quatro adolescentes da favela São Remo, em Pinheiros (zona sudoeste de SP), a viverem na ociosidade. Com idades entre 15 e 17 anos, três dos garotos abandonaram os estudos e nenhum procura emprego porque "todo mundo diz que está difícil". Passam o dia vendo TV, jogando bola com vizinhos que estão na mesma situação e, às vezes, ajudam a mãe a cuidar da casa. "Mas a gente tem cabeça boa e não anda com caras da pesada", diz Gilsandro Moreira da Silva, 17, que deixou a escola na 7ª série. Sua mãe confirma. "A gente é pobre mas sabe mostrar para os meninos o que é certo e o que é errado." Silva, que nunca trabalhou, está aguardando o resultado do alistamento militar. "Se eu não servir o exército, vou procurar um emprego." Mas voltar aos estudos não está nos planos da maioria. "Estudar para quê? Para virar faxineiro?", diz Dirceu Gomes, 17, que abandonou a escola na 3ª série do primário. Do grupo, ele é o mais experiente. Fez trabalhos informais como ajudante de jardinagem, vendeu iogurte nas ruas e também limpou vidros de carros no estacionamento da USP (Universidade de São Paulo), como empregado de uma empresa. "Meus chefes eram chatos e nos exploravam. Por isso, desisti." Está há um mês "descansando" para voltar a procurar emprego. "Quero trabalhar, mas só consigo "bicos' que me rendem, no máximo, R$ 200 por mês." Clodoaldo Lauro, 15, estudou até a 6ª série e deixou a escola para trabalhar de empacotador em um mercado. "Quis estudar à noite, mas era muito novo e não me aceitaram." O emprego durou um mês -todos os empacotadores foram demitidos. Mas Lauro desistiu de voltar à escola ou de procurar outro emprego. "Não conheço bem a cidade e procurar trabalho sozinho é ruim. Além disso, minha mãe não acha ruim porque eu ajudo nos trabalhos de casa e vou buscar meus sobrinhos na escola." Mas Lauro tem um objetivo: se tornar professor de capoeira. A descoberta surgiu durante aulas em uma escolinha de circo montada na favela São Remo, onde passa duas horas diárias praticando a luta além de treinar saltos em uma cama elástica. O único da turma que frequenta a escola é Durval Silva de Morais, 15. Está na 6ª série. "Estudar é chato, mas sei que é importante para o meu futuro." Quanto ao trabalho, diz que "até tem vontade". "Mas fico desanimado porque sei que, se for procurar, não vou achar." (PRISCILA LAMBERT)




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