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EM CASA
Falta de apoio leva
adolescentes a ócio
da Reportagem Local
A falta de incentivo da família e
da sociedade é um dos fatores
que estimula quatro adolescentes da favela São Remo, em Pinheiros (zona sudoeste de SP), a
viverem na ociosidade.
Com idades entre 15 e 17 anos,
três dos garotos abandonaram
os estudos e nenhum procura
emprego porque "todo mundo
diz que está difícil". Passam o
dia vendo TV, jogando bola com
vizinhos que estão na mesma situação e, às vezes, ajudam a mãe
a cuidar da casa.
"Mas a gente tem cabeça boa e
não anda com caras da pesada",
diz Gilsandro Moreira da Silva,
17, que deixou a escola na 7ª série. Sua mãe confirma. "A gente
é pobre mas sabe mostrar para
os meninos o que é certo e o que
é errado."
Silva, que nunca trabalhou, está aguardando o resultado do
alistamento militar. "Se eu não
servir o exército, vou procurar
um emprego."
Mas voltar aos estudos não está
nos planos da maioria. "Estudar
para quê? Para virar faxineiro?",
diz Dirceu Gomes, 17, que abandonou a escola na 3ª série do primário.
Do grupo, ele é o mais experiente. Fez trabalhos informais
como ajudante de jardinagem,
vendeu iogurte nas ruas e também limpou vidros de carros no
estacionamento da USP (Universidade de São Paulo), como
empregado de uma empresa.
"Meus chefes eram chatos e nos
exploravam. Por isso, desisti."
Está há um mês "descansando" para voltar a procurar emprego. "Quero trabalhar, mas só
consigo "bicos' que me rendem,
no máximo, R$ 200 por mês."
Clodoaldo Lauro, 15, estudou
até a 6ª série e deixou a escola
para trabalhar de empacotador
em um mercado. "Quis estudar
à noite, mas era muito novo e
não me aceitaram."
O emprego durou um mês
-todos os empacotadores foram demitidos. Mas Lauro desistiu de voltar à escola ou de procurar outro emprego.
"Não conheço bem a cidade e
procurar trabalho sozinho é
ruim. Além disso, minha mãe
não acha ruim porque eu ajudo
nos trabalhos de casa e vou buscar meus sobrinhos na escola."
Mas Lauro tem um objetivo: se
tornar professor de capoeira.
A descoberta surgiu durante
aulas em uma escolinha de circo
montada na favela São Remo,
onde passa duas horas diárias
praticando a luta além de treinar
saltos em uma cama elástica.
O único da turma que frequenta a escola é Durval Silva de Morais, 15. Está na 6ª série. "Estudar é chato, mas sei que é importante para o meu futuro."
Quanto ao trabalho, diz que
"até tem vontade". "Mas fico
desanimado porque sei que, se
for procurar, não vou achar."
(PRISCILA LAMBERT)
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