São Paulo, terça, 21 de julho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EDUCAÇÃO
Estimativa do MEC mostra que no governo FHC aumentou participação das pagas no total de matrículas
Ensino superior cresce mais nas particulares

BETINA BERNARDES
da Sucursal de Brasília

Durante o governo Fernando Henrique Cardoso, a oferta de vagas nas faculdades cresceu, mas especialmente no setor privado. Projeções do Ministério da Educação apontam que, em 98, há 424 mil matriculados a mais no ensino superior em comparação a 94 e que essa expansão se deu, sobretudo, na área privada.
Quatro anos atrás, o país tinha 1,6 milhão de alunos em faculdades, sendo que 970,5 mil (58,4%) estavam em particulares. Agora, o MEC estima que existam 2,085 milhões de universitários no país -60,7% no ensino privado.
No último ano do governo Itamar Franco, estavam matriculados em instituições federais de ensino superior 363,5 mil estudantes. Em instituições estaduais e municipais, 327 mil. Quatro anos depois, as federais contam com apenas 62 mil alunos a mais e as outras públicas, com 65,5 mil.
As privadas têm este ano 296 mil estudantes a mais em relação a 94.
Segundo o ministro Paulo Renato Souza (Educação), o sistema federal de ensino superior teria condições de absorver os novos estudantes. Ele se baseia na relação de oito alunos por professor, que existe hoje nas federais, para defender essa tese.
Para o ministro, essa relação é muito baixa em comparação com países desenvolvidos, onde seria de 16 alunos por professor.
"Temos hoje 426 mil matriculados nas federais. Com o mesmo número de professores, poderíamos ter o dobro de alunos, se tivéssemos uma relação como a do Primeiro Mundo."
Segundo Paulo Renato, há quatro anos o Brasil possuía um dos menores índices de cobertura universitária em relação à população de 20 a 24 anos, em comparação com os demais países latino-americanos. Pelos dados mais atualizados, de 96, estavam na graduação 10,7% dos jovens de 20 a 24 anos do país.
"Não faltavam vagas, mas alunos que estivessem concluindo o ensino médio. Tivemos uma expansão no ensino médio de cerca de 40% nos últimos quatro anos."
Ontem, o presidente Fernando Henrique Cardoso disse que o ensino universitário público será mantido. Mas, faltando meses para o final de seu mandato, cobrou das universidades a ampliação do número de vagas oferecidas.
"Um país democrático tem de oferecer a universidade pública, mas é preciso que as universidades também cumpram o papel delas e ampliem as vagas, porque a proporção aluno/professor no Brasil é extremamente baixa", disse FHC.
As declarações foram feitas na abertura da 1ª Reunião de Ministros de Educação do Conselho Interamericano de Desenvolvimento Integral da OEA (Organização dos Estados Americanos). Na reunião estavam os ministros de Educação dos países-membros da OEA e embaixadores estrangeiros.
Na opinião de FHC, se as universidades públicas não ampliarem o número de vagas, a população acabará tendo de "pagar caro" nas universidades privadas.
"A expansão do setor universitário vai recair, basicamente, sobre a escola privada, que é cara e que, infelizmente para nós, é frequentada pelos mais pobres, não pelos mais ricos", disse ele.
FHC disse que a ampliação de vagas "precisa ser reorientada de tal maneira que a universidade pública seja mais democrática". A afirmação em defesa da democracia foi feita poucos dias depois de os estudantes da Federal do Rio se revoltarem contra a decisão do governo de escolher como reitor José Henrique Vilhena, segundo colocado nas eleições internas, em vez de Aluísio Teixeira, o mais votado.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.