São Paulo, segunda-feira, 21 de agosto de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RIO

Líderes comunitários dos morros articulam atuação conjunta; no próximo dia 29, haverá manifestação na Candelária

Favelas preparam protestos contra violência policial

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Organizada e sob um comando unificado, a população das favelas do Rio se prepara para descer o morro e reagir de forma conjunta a casos de violência policial.
O primeiro teste da "revolução das favelas", como a definem seus líderes, já tem data e objetivo: parar o Rio no dia 29 de agosto, num ato em memória dos sete anos da chacina de Vigário-Geral, quando 21 pessoas morreram.
"Queremos que, a cada ação de violência policial, corresponda uma reação de igual intensidade. Quando matarem alguém numa favela, as outras vão mostrar sua dor. E isso não vai ter nada a ver com o tráfico", afirma André Fernandes, um dos organizadores do ato do dia 29. A manifestação é coordenada pela Frente de Luta Popular, que organizou a ida de um grupo de sem-teto ao shopping Rio Sul, há 15 dias.
A idéia agora é transformar o 29 de agosto no Dia de Luta do Povo contra a Violência. Pretendem fazer atos nas favelas de manhã e concentração à tarde na Candelária (centro), palco da chacina de oito meninos de rua em 1993.
Os líderes passaram o fim-de-semana em reuniões de planejamento do ato. As rádios populares e os bailes funk também já estão convocando os moradores de morros para a manifestação.
Outro coordenador do ato é Antônio Carlos Gabriel, o Rumba Gabriel, presidente da Associação de Moradores do Jacarezinho. "Todo mundo se organiza, trabalhadores, sem-teto, professores. Por que as favelas não podem se organizar? Essa é a revolução socialista que nós queremos, e ela já começou", afirma. Segundo ele, essa revolução é pacífica.
Rumba diz não querer apoio nem armas dos traficantes. Ressalta, porém, que o tráfico é parte da sociedade. "Vivemos no fio da navalha, entre o tráfico e a polícia. Temos de conviver com ele."
Grupos de defesa de direitos humanos serão convidados para o ato. A exceção é o movimento Viva Rio, coordenado pelo antropólogo Rubem César Fernandes e mobilizador de eventos como o "Basta! Eu Quero Paz".
A opinião de Fernandes sobre o Viva Rio é radical: "É o Viva Rico, faz abraço na lagoa Rodrigo de Freitas e bota a polícia para distribuir flores à população. Na favela, a polícia distribui tiros".
Na quinta-feira, moradores do morro de São Carlos (zona norte) queimaram dois ônibus em protesto contra a morte de um garoto de 6 anos, cuja autoria atribuem a PMs. O governo reagiu. Disse que o menino foi morto por traficantes. Prometeu recompensa de R$ 10 mil por informações e outros R$ 5.000 para quem denunciar depósitos de armas do tráfico.
Para o governo, os traficantes têm incitado parte das manifestações, que serão filmadas a partir desta semana. A Secretaria de Segurança Pública informou que, se houver qualquer indício de que esses atos estejam fazendo apologia do crime, irá abrir inquérito para punir os responsáveis.
O secretário Josias Quintal afirmou que serão permitidas manifestações pacíficas, mas que punirá baderna e depredações.

A Frente de Luta Popular é composta por: Favelania, Movimento Popular Comunitário, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Movimento dos Trabalhadores Sem Teto e o Movimento Universidade Popular.


Texto Anterior: Diretora diz que pessoas não tomam cuidado
Próximo Texto: Líderes são militantes políticos
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.