São Paulo, segunda-feira, 21 de agosto de 2000


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TRAGÉDIA EM PERUS

Comissão conclui que, desde 95, modelo de trem envolvido em acidente tinha problema para ficar parado em declive

CPTM sabia que freio não funcionava

FABIANE LEITE
DA FOLHA ONLINE

A comissão de sindicância da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) constatou que o modelo de trem envolvido no acidente de 28 de julho, na estação Perus, apresentava problemas, desde 1995, para ficar parado em áreas de declive.
No dia 27 de fevereiro daquele ano, o trem WPC-7454, modelo 1.700, circulou vazio e sem controle entre as estações Vila Clarisse e Piqueri, uma área de declive da linha A, que liga o bairro da Barra Funda ao município de Francisco Morato (Grande São Paulo). Esse fato consta do relatório final da comissão, que não informa se alguém ficou ferido.
No mês passado, o trem de prefixo 127, da série 1.700, colidiu com outra locomotiva após não conseguir ficar parado em uma área de declive, entre as estações Jaraguá e Perus, na mesma linha A onde a outra composição havia perdido o controle em 95. Nove pessoas morreram e mais de cem ficaram feridas.
"Embora apresentem condições satisfatórias em tráfego, os trens da série 1.700 que ainda não foram submetidos aos serviços de revisão geral com modernização, por características próprias de projeto, apresentam limitações quanto ao estacionamento em rampas acentuadas quando da inexistência do freio eletropneumático", diz um trecho da página 18 do laudo da sindicância.
"Essa característica de projeto ficou evidenciada em 27/02/1995 quando a composição WPC-7454 circulou vazia, sem equipagem, entre Vila Clarisse e Piqueri", relata o documento.
Atualmente, dez composições da série 1.700 que circulam na linha A estão na mesma situação dos trens 127 e da composição WPC-7454. Ou seja, com limitações para estacionar em áreas de declive. Elas ainda não foram reformadas.
Na linha A existem 25 composições da série 1.700. Apenas oito já foram modernizadas. Outras sete estão na indústria para manutenção. A previsão da CPTM é que apenas dentro de um ano todos os trens estejam reformados. A série 1.700 entrou em operação em 1987.

Revisão
O trem tem dois tipos de freio, o eletropneumático, movido a ar, e o de estacionamento. No acidente de 28 de julho, os dois freios foram acionados, mas não "seguraram" o trem.
De acordo com o relatório da CPTM, em 95 foi instaurada uma comissão de sindicância para apurar o episódio com a composição WPC-7454. A comissão apontou vazamentos no freio movido a ar, entre outros problemas.
"Naquela oportunidade a comissão de sindicância recomendou revisão do sistema de freio eletropneumático, bem como do freio de estacionamento", aponta o relatório.
O texto destaca que a CPTM, em 95, acabara de incorporar a frota e as linhas da rede ferroviária federal, que estavam em más condições. A incorporação havia ocorrido em maio de 94.
A recomendação para que os trens fossem revisados, segundo o relatório da CPTM, começou a ser cumprida somente em 1997.
O relatório da comissão de sindicância que investigou o acidente concluiu que a provável causa da colisão foi o fato de o maquinista do trem 127, Osvaldo Pierucci, não ter calçado a composição, o que ele nega.
A assessoria de imprensa da CPTM informou que o atual presidente da empresa, Oliver Hossepian Salles de Lima, não poderia comentar o episódio com o trem WPC-7454 porque ele não presidia o órgão em 1995.
Para falar sobre o assunto, a assessoria indicou José Roberto da Rosa, antecessor de Lima. Rosa, que hoje é assessor do secretário dos Transportes Metropolitanos, Cláudio de Senna Frederico, não foi localizado.
Segundo a assessoria da CPTM, a demora na reforma dos trens da série 1.700 ocorre em razão da incapacidade da indústria nacional de atender a demanda para reforma nos trens.
O secretário, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que não comentaria o assunto.
Atualmente a Secretaria dos Transportes Metropolitanos está negociando um financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para reformar a frota da CPTM e do Metrô. O valor do financiamento não foi informado.
O relatório da comissão de sindicância da CPTM teve seus resultados divulgados no último dia 12. Desde então, a empresa se recusava a revelar para a imprensa a íntegra do documento.
Na última quinta-feira, o texto completo foi entregue à Assembléia Legislativa, onde o presidente da CPTM prestou esclarecimentos sobre os investimentos na rede ferroviária durante a gestão do governador Mário Covas (PSDB).


Colaborou a Reportagem Local

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