São Paulo, Sábado, 21 de Agosto de 1999
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SAÚDE
Cerca de 50 servidores aproveitaram inauguração de pronto-socorro para fazer reivindicações salariais
Covas é vaiado por funcionários do HC

PRISCILA LAMBERT
da Reportagem Local

Cerca de 50 funcionários do Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo cercaram ontem o governador Mário Covas na porta do Instituto da Criança para fazer reivindicações salariais. O governador discutiu com eles por cerca de 20 minutos e negou os pedidos.
Os manifestantes quiseram entregar um documento com as reivindicações para que Covas estudasse e marcasse audiência com os representantes da Associação dos Servidores do HC. "Não precisa marcar nada, respondo agora mesmo", disse Covas.
Os funcionários reivindicam um reajuste baseado no IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), da Fundação Getúlio Vargas, retroativo aos últimos cinco anos.
"Não temos aumento desde 94", disse Nilson Valério Primo, presidente da Associação dos Servidores do HC.
Resposta de Covas, seguida de vaias: "Ninguém aqui do HC ganha menos de R$ 1.000".
O governador se referia às gratificações e ao complemento salarial que os funcionários recebem da Fundação Faculdade de Medicina da USP.
Mas o governador voltou atrás na tarde de ontem, quando analisou a folha de pagamento dos funcionários e percebeu que estava equivocado. Todos os funcionários que não têm nível superior ganham menos de R$ 1.000.
De acordo com o governador, contando com as gratificações e com o prêmio incentivo -pagamento oferecido de acordo com a produtividade do funcionário-, os servidores tiveram aumento de 71% a 124% nos salários, dependendo do nível em que o profissional se enquadra.
"Gratificação não é salário", afirmou a auxiliar técnica de saúde Alaíde Padilha, há 16 anos no HC. Alaíde diz que tem um salário-base de R$ 91 há cinco anos. Com as gratificações mensais, seu salário chega a R$ 345. Somando ainda a complementação da fundação, recebe, no total, R$ 695.
"Se vocês quiserem aumento, então retiro as gratificações", respondeu Covas. "Tenho muitas contas a pagar. O Estado gasta R$ 1,2 bilhão por mês em salários."
Os servidores reivindicaram também a entrega de tíquetes-refeição referentes ao mês de julho, quando a empresa Fratello, responsável pelos tíquetes, faliu.
Em agosto, os funcionários receberam um talão de tíquetes da empresa que venceu a nova licitação, mas o talão referente ao mês anterior não foi entregue. "Esse foi um problema burocrático porque a empresa faliu", respondeu Covas.

Jornada de trabalho
Covas negou também o pedido de redução da jornada de trabalho dos servidores da área-meio (trabalhadores da manutenção, porteiros, agentes administrativos etc.) de 40 horas para 30 horas semanais, e a abertura de concurso público para preencher 3.638 vagas no Hospital das Clínicas.
"Em 98, eu aprovei a abertura de 800 vagas. Só foram abertas 600 porque o processo foi interrompido com as eleições. Só serão abertas as 200 vagas que faltam", disse Covas.
Entre uma série de queixas e solicitações, uma funcionária reclamou diretamente com o governador sobre a dificuldade de conseguir remédios na rede pública. "Ganho R$ 348 para sustentar uma filha. Não tenho condições de comprar remédios." Covas chamou seus assessores para resolver o problema da funcionária.

Instituto da Criança
O encontro de Covas com os servidores ocorreu após a cerimônia de inauguração do novo pronto-socorro do Instituto da Criança do HC. A reforma, planejada desde 94 e orçada em R$ 10,8 milhões, foi possível parcialmente porque o governo estadual havia liberado apenas R$ 3,6 milhões.
Ontem, o governador afirmou que vai liberar mais R$ 5,6 milhões para a conclusão das obras. O novo pronto-socorro fica em um andar de um prédio anexo de quatro andares, para onde serão transferidos, após o fim das obras, outros serviços do Instituto da Criança.


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