São Paulo, quinta-feira, 21 de novembro de 2002

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ACIDENTE

Após inalar fumaça, gerente não resistiu à terceira parada cardíaca; motorista morreu a caminho do hospital

Asfixia provocou mortes, dizem médicos

DA REPORTAGEM LOCAL

O gerente Moisés Santos Tavares, de aproximadamente 40 anos, resistiu a duas paradas cardíacas. Mas, na terceira, quando já estava há duas horas e 30 minutos sendo atendido no Hospital do Mandaqui (zona norte), acabou morrendo.
"Como era jovem e sadio, conseguiu resistir às duas primeiras paradas. Mas o seu caso era grave. Ele tinha queimaduras dentro da boca, na faringe e na traquéia -uma característica de quem inala muita fumaça", afirmou o médico José Custódio de Moura.
Tavares foi levado ao hospital por volta das 16h20, quase uma hora e meia depois do início do incêndio no prédio do Itaú.
Nem os bombeiros ou os médicos souberam informar em que andar do prédio Tavares estava quando o fogo começou. No hospital, parentes e amigos evitaram falar com os jornalistas. Sua mulher, Silvia, passou mal e teve de ser assistida por médicos.
Assim como Tavares, o motorista Jaime Celestino Filho, de aproximadamente 50 anos, também morreu em decorrência de parada cardiorrespiratória. Celestino Filho, porém, nem chegou a ser medicado. Chegou morto ao Pronto-Socorro Municipal Lauro Ribas Braga (PS Santana), também na zona norte.
Segundo Marcelo dos Santos Gaya, coordenador administrativo do PS Santana, Celestino Filho foi identificado por um funcionário do banco Itaú. Sua família não quis dar entrevistas.
Um outro funcionário, que também não se identificou, conta que viu um motorista que prestava serviço para a empresa em uma das janelas do prédio, quase desmaiando e pedindo socorro. Segundo ele, os bombeiros tiveram dificuldades para chegar ao local onde estava o homem. Não confirmou se era Jaime.
Um homem identificado apenas como José também foi atendido no PS por causa de intoxicação. Fez uma inalação e foi liberado em seguida. Ele era segurança da empresa Pires, informou Gaya.
O fogo durou cerca de duas horas, atingindo principalmente o almoxarifado. Além do excesso de fumaça, as chamas provocaram explosões nos vidros laterais e da frente do prédio, obrigando os bombeiros a desocupar um prédio ao lado, de quatro andares.
"A brigada de incêndio que fica no local foi acionada, mas não teve condições de dominar o fogo", diz nota emitida pelo banco.

Correria
Com a fumaça, boa parte dos funcionários ficou isolada no prédio, à espera de ajuda. Célia Francisca dos Reis, 63, funcionária da limpeza no local, estava no terceiro andar quando o incêndio começou. Ela conta que só viu fumaça e muita correria.
Como a fumaça dificultava o acesso às escadas, ela e outros funcionários ficaram juntos perto da janela. "Todos conseguiram manter a calma. Ninguém chorou, e a chegada dos bombeiros foi rápida." Célia e outras pessoas desceram os andares no elevador do prédio.
Anderson de Souza Amaral, 30, também funcionário da limpeza, estava no primeiro andar. Ele afirma que sentiu um cheiro forte e que todos saíram correndo. "Eu pulei para a área de um prédio vizinho", diz. Segundo ele, muitos funcionários tiveram medo de descer pelas escadas ou pelo elevador por conta da fumaça.
O fogo foi controlado por volta das 17h. Pouco antes das 19h, os bombeiros descartaram a possibilidade de encontrar mais vítimas.
(FABIANE LEITE E ALESSANDRO SILVA)


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