DA REPORTAGEM LOCAL

Frigideira na mão, pronta para servir seu conteúdo, a atriz pergunta: "Alho?". É hora do jantar que o elenco da peça "O Jardim das Delícias" oferece a seis integrantes da platéia.
Não fossem 6h, Raquel Esteves, 20, aceitaria adicionar o ingrediente à sua porção de massa. Àquela hora, porém, disse não.
O ingresso gratuito ao espetáculo, na Casa das Rosas, às 5h10 do domingo, "foi a única coisa que deu certo" no roteiro prévio que Raquel havia preparado para desfrutar a Virada Cultural.
"Fomos ver os Doutores da Alegria no Sesc Vila Mariana e, quando chegamos, a bilheteria já estava fechada", conta Raquel, que veio da zona leste.
Feitas as contas, no entanto, achou que, "apesar dos contratempos e do sono, a noite foi bacana". Raquel aprovou também o cardápio da peça, preparado em cena. "A gente fica com receio, mas até que estava bom."
A estudante de relações internacionais Carina Claros Gonçales, 25, é outra que viu frustrada parte de seu plano para a noitada cultural. "Achei muito mal organizado. Isso me desmotivou."
Enquanto isso, no primeiro andar, era preparado um pequeno palco para o recital de poesia que teria início às 3h e começou com 25 minutos de atraso.
Poesia numa hora dessa faz sucesso? E como! As 50 cadeiras reservadas para o público foram poucas. Com gente de pé pelos corredores e amontoada nas salas laterais, o diretor da Casa das Rosas, Frederico Barbosa, recitou os primeiros versos, extraídos de "O Coração Denunciador", de Edgar Allan Poe.
A partir daí, foi um desfile de poetas profissionais e diletantes, recitando versos próprios ou alheios, recebidos com palmas entusiasmadas da platéia e intercalados esporadicamente pelo aviso de Barbosa: "Gente, os poemas têm de ser mórbidos".
Na primeira "noite branca" de São Paulo, os "poetas da sombra" foram convocados e não faltaram. (SA)


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