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SAÚDE
Aborto de feto com má-formação foi barrado na Justiça a pedido de padre
Vídeo conta drama de jovem grávida
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Será lançado amanhã, em Porto
Alegre, o documentário "Habeas
Corpus", de Débora Diniz e Ramon Navarro, história real de que
quase nunca se fala, mas está por
trás da discussão teórica sobre o
aborto de fetos inviáveis à vida.
Em 19 minutos, "Habeas Corpus" mostra o sofrimento de uma
jovem de 19 anos identificada só
por Tatielle, grávida de um feto
inviável para a vida; que obtém na
Justiça autorização para abortar;
que é expulsa do hospital por força de um habeas corpus concedido em favor do feto, até dar à luz
Giovana, no dia 17 de outubro último, que morre minutos depois.
A inviabilidade do feto era consenso médico -tinha atrofia no
cordão umbilical. Com isso, a cavidade abdominal não se fechou e
os órgãos ficaram expostos. O
pulmão, de tão atrofiado, poderia
explodir na primeira inspiração.
Com a autorização, Tatielle saiu
de sua cidade, Morrinhos (GO), e
foi para Goiânia. Com cinco dias
de internação, chegou o habeas
corpus a partir de pedido feito por
um padre arquiinimigo do aborto, Luiz Carlos Lodi da Cruz.
Sem saber como proceder, os
médicos expulsaram Tatielle do
hospital e ela voltou a Morrinhos.
Já tinha perda abundante de sangue, fortes dores e febre, que os
médicos negavam-se a tratar com
remédios, para ninguém achar
que tinham induzido um aborto.
"Tatielle virou uma bomba ambulante", diz a diretora Debora
Diniz, que acompanhou o desamparo da gestante -a família não
tinha recursos para tratamento
privado. Foram cinco dias de agonia até o corpo de Tatielle dar à luz
o bebê e minutos até a morte. A
jovem quis ver o corpo, o que não
é mostrado no documentário.
"Era monstruoso", diz a diretora.
No fim, para sublinhar a loucura burocrática, o enterro não podia acontecer porque o bebê não
tinha certidão de nascimento e o
cartório estava fechado.
Em nenhum momento o padre
aparece no vídeo. Ele não conversou uma só vez com a família, não
procurou nenhum representante
dela. "Mais de dez vezes tentamos
falar com o padre Lodi. Ele negou-se sempre", conta Diniz.
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