São Paulo, segunda-feira, 21 de novembro de 2005

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SAÚDE

Aborto de feto com má-formação foi barrado na Justiça a pedido de padre

Vídeo conta drama de jovem grávida

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Será lançado amanhã, em Porto Alegre, o documentário "Habeas Corpus", de Débora Diniz e Ramon Navarro, história real de que quase nunca se fala, mas está por trás da discussão teórica sobre o aborto de fetos inviáveis à vida.
Em 19 minutos, "Habeas Corpus" mostra o sofrimento de uma jovem de 19 anos identificada só por Tatielle, grávida de um feto inviável para a vida; que obtém na Justiça autorização para abortar; que é expulsa do hospital por força de um habeas corpus concedido em favor do feto, até dar à luz Giovana, no dia 17 de outubro último, que morre minutos depois.
A inviabilidade do feto era consenso médico -tinha atrofia no cordão umbilical. Com isso, a cavidade abdominal não se fechou e os órgãos ficaram expostos. O pulmão, de tão atrofiado, poderia explodir na primeira inspiração.
Com a autorização, Tatielle saiu de sua cidade, Morrinhos (GO), e foi para Goiânia. Com cinco dias de internação, chegou o habeas corpus a partir de pedido feito por um padre arquiinimigo do aborto, Luiz Carlos Lodi da Cruz.
Sem saber como proceder, os médicos expulsaram Tatielle do hospital e ela voltou a Morrinhos. Já tinha perda abundante de sangue, fortes dores e febre, que os médicos negavam-se a tratar com remédios, para ninguém achar que tinham induzido um aborto.
"Tatielle virou uma bomba ambulante", diz a diretora Debora Diniz, que acompanhou o desamparo da gestante -a família não tinha recursos para tratamento privado. Foram cinco dias de agonia até o corpo de Tatielle dar à luz o bebê e minutos até a morte. A jovem quis ver o corpo, o que não é mostrado no documentário. "Era monstruoso", diz a diretora.
No fim, para sublinhar a loucura burocrática, o enterro não podia acontecer porque o bebê não tinha certidão de nascimento e o cartório estava fechado.
Em nenhum momento o padre aparece no vídeo. Ele não conversou uma só vez com a família, não procurou nenhum representante dela. "Mais de dez vezes tentamos falar com o padre Lodi. Ele negou-se sempre", conta Diniz.


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