São Paulo, domingo, 22 de março de 1998

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Congestionamentos chegam aos bairros de SP



da Reportagem Local

A degradação das condições de vida em São Paulo já afeta algumas "ilhas de tranquilidade". Brooklin, Vila Olímpia (ambas na zona sudoeste) e Jardim Marajoara (zona sul) , bairros notoriamente tranquilos e arborizados, já sofrem com excesso de trânsito e congestionamentos, que estimulam os paulistanos a fugir da capital.
"Para fugir dos congestionamentos das avenidas, os carros entram no bairro, interferindo no dia-a-dia dos moradores. Há até linha de ônibus passando em ruas estreitas", diz Rosângela Torrezan, Giembinsky, moradora da Vila Olímpia.
Depois da abertura da avenida Nova Faria Lima, há quase dois anos, que dividiu a região do Itaim Bibi (zona sudoeste) em duas, atividades corriqueiras como ir à farmácia ou ao banco se tornaram complicadas. "Nunca tem onde estacionar. Está na cara que o comércio local não comporta esse movimento", diz Célia Pádua, moradora do Itaim.
Obras inacabadas são vetores de atração de veículos para as regiões do Brooklin e do Jardim Marajoara. No primeiro caso, a avenida Água Espraiada, projetada para canalizar o tráfego da marginal Pinheiros em direção à região do aeroporto de Congonhas.
No segundo, o problema é a avenida Lourival Alves de Souza, prevista para canalizar o fluxo oriundo da avenida Nações Unidas para a avenida Interlagos.
"Chegamos a contar 1.800 carros nos horários de pico em ruas que não comportam esse trânsito", diz Gerhard Berke, secretário da Sociedade dos Amigos do Jardim Marajoara.

Saturação
A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) admite o problema e diz que ele é consequência do excesso de veículos em circulação em São Paulo.
Dados da empresa revelam que, em 20 anos, a frota na cidade passou de cerca de 1,1 milhão de veículos para 4,7 milhões. Eles circulam em cerca de 14 mil quilômetros de sistema viário.
Em cerca de dez anos, a população da cidade passou de aproximadamente 7 milhões de habitantes para quase 10 milhões.
"Quase não houve investimento em abertura de vias nesse período. O sistema viário está saturado, não comporta essa frota. É previsível que mais carros passem a circular nos bairros", diz Nancy Reis Schneider, supervisora de planejamento da CET.
Na opinião dela, a solução para o trânsito de São Paulo depende de um conjunto de projetos articulados, entre eles faixas solidárias, rodízios e imposição de limites à circulação de caminhões na cidade. "Mesmo que houvesse um investimento maciço em transporte coletivo, não resolveria. É preciso mudar os hábitos e a cultura que valoriza o automóvel."

Mobilização
Essa interferência na dinâmica dos bairros residenciais tem um efeito positivo: estimula a mobilização e a organização dos moradores em torno da disposição de manter a qualidade de vida. A opinião é da urbanista Regina Monteiro, vice-presidente do movimento Defenda São Paulo.
Os três bairros têm associações de moradores ativas, que lutam pela preservação de suas características e para evitar a degradação das condições de vida.
"Há divergências, mas temos conseguido coordenar um pouco o trânsito no bairro. Também conseguimos que a CET tirasse as placas induzindo o tráfego para dentro da região", diz Regina, que também é membro da associação dos moradores do Brooklin.
(MARTA AVANCINI)


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