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PARAÍSO PERDIDO 3
Fenômeno, pelo qual o Brasil já passou, será mundial na virada do século; zonas rurais se urbanizam
Cidade terá mais gente que campo em 2000
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
enviado especial ao Paraná
Os limites entre os meios rural e
urbano estão cada vez mais difusos. Por causa disso, os programas
de desenvolvimento e combate à
pobreza devem ter uma visão espacial, para que a solução de um
problema na cidade não cause outro no campo.
Essa foi uma das conclusões do
seminário internacional "Elos de
vida campo-rural", promovido
pelo Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (Pnud)
em Curitiba, de 10 a 13 de março.
Na virada do século, pela primeira vez na história, haverá mais
pessoas vivendo nas cidades do
que nas zonas rurais.
O panorama que serviu de ponto
de partida para o seminário inclui
dados surpreendentes: enquanto
15% de toda a comida produzida
no mundo é cultivada em áreas
urbanas, há sinais de rápida urbanização das áreas rurais.
As mudanças no cenário rural
incluem a construção de condomínios de luxo na periferia das
grandes cidades, a transformação
de fazendas em hotéis e a disseminação dos pesque-pague como
opção de lazer para a classe média.
Esses empreendimentos, onde
os clientes pagam pelo peixe que
pescam, já são responsáveis por
90% do comércio de pescado de
água doce no Brasil.
As consequências dessa transformação são várias, inclusive sobre a organização do trabalho no
campo. No Estado de São Paulo,
por exemplo, 44% da população
rural ocupada trabalha em atividades sem nenhuma ligação com
agricultura ou pecuária.
Segundo o professor da Unicamp José Graziano da Silva, um
dos coordenadores do projeto
Rurbano, as feiras, rodeios e festas
de peão-de-boiadeiro já movimentam uma renda superior às
exportações brasileiras de soja e
café somadas.
Essa transição da economia rural que está em curso no Brasil já
foi completa nos países desenvolvidos. Lá, por causa dos avanços
da mecanização da agricultura, as
alternativas de produção de emprego rural estão ligadas ao setor
de serviços.
Toda essa transformação está
ocorrendo sem a participação do
Estado. "É preciso que haja uma
coordenação entre os programas
oficiais de desenvolvimento. Porque quase sempre um programa
beneficia a área urbana em detrimento da rural e vice-versa", diz
Jonas Rabinovitch, do Pnud.
Ele cita como exemplo as regiões
metropolitanas, onde os programas de governo muitas vezes não
levam em conta as implicações
que uma ação em determinada
área tem sobre a vizinha.
Entre as recomendações que os
técnicos de duas dezenas de países
apresentaram durante o encontro,
destacam-se, na área de governo,
o incremento do uso do espaço
rural para acomodar os pobres das
periferias das cidades.
Um dos exemplos disso é o projeto de vilas rurais do governo do
Paraná, que financia a construção
de habitações para bóias-frias.
O uso de subsídios também ficou entre as recomendações. Especialmente na forma de microcrédito, a juros mais baixos do que
os de mercado, para financiar atividades que fixem as pessoas nas
áreas rurais.
Entre os exemplos estão formas
de facilitar a venda de produtos
agrícolas nos mercados urbanos.
Os técnicos recomendaram ainda a descentralização das políticas
para reforçar o papel do poder local. Com a ressalva de que essa
transferência não seja apenas de
responsabilidades, mas acompanhada de verbas. No combate à
pobreza, as recomendações foram
de ofertar às populações rurais
serviços -como educação- e infra-estrutura -como transporte- que permitam às pessoas
produzir e viver em condições
equivalentes às da cidade.
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