São Paulo, domingo, 22 de março de 1998

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Vila rural melhora moradia

do enviado especial

O projeto das vilas rurais, do governo do Paraná, alcançou sua meta de oferecer melhores condições de moradia para os trabalhadores bóias-frias e fixá-los no meio rural. Mas os objetivos relativos à geração de emprego "estão bastante prejudicados".
Essas são as principais conclusões da "Avaliação participativa do programa vilas rurais", feita pela Fundação de Apoio à Pesquisa e ao Desenvolvimento do Agronegócio (Fapeagro), a pedido do próprio governo paranaense.
"A maior queixa dos beneficiários refere-se ao desemprego", diz o texto de avaliação. "Há uma forte demanda por recursos de produção, de forma a potencializar a geração de renda no lote".
O motivo é a dimensão do terreno: são 5.000 m2. Em geral, os colonos usam 1.000 m2 para construir a casa e o silo. Nos 4.000 m2 restantes, fazem uma plantação que não produz renda suficiente para manter a família durante todo o ano.
É o caso de Sebastião Gonçalves Cota, 56. Ele mora com a mulher e a filha na primeira vila rural construída pelo governo paranaense, no distrito de Sertãozinho, em Engenheiro Beltrão. Ele tem uma plantação de algodão, da qual espera colher 50 arrobas. Isso deve lhe render R$ 500 por ano. Para sobreviver, ele trabalha como diarista em plantações da região, além de ser meieiro em uma lavoura de café.
No final, sua renda anual será de cerca de R$ 3.600, ou R$ 300 por mês. Além disso, conta com o salário de sua filha, professora primária em uma escola do distrito vizinho à vila.
Manuel Vieira Santos, 30, é o presidente eleito da vila Francisca Ferreira Borges. Como Cota, também trabalha em sistema de parceria em lavouras da região para obter seu rendimento principal.
Segundo ele, a maioria dos moradores da vila trabalha como diarista no corte de cana ou na colheita de café.
Santos faz planos de organizar uma plantação coletiva de 100 mil pés de café na vila, secar, moer e embalar a produção lá mesmo e vendê-la em mercados da região. Ele se queixa, porém, da falta de crédito para as plantações.
Quanto às condições de moradia, entretanto, Cota e Santos só fazem elogios. A casa de Cota tem dois quartos, dois banheiros, sala, cozinha e área de serviço. "É muito melhor do que a casa de colônia em que eu morava na fazenda", conta.
A avaliação da Fapeagro elenca, como vantagens do projeto de vilas rurais levantadas pelos vileiros: melhores condições de moradia, área para cultivo, casa própria, maior segurança, melhor higiene, alimentação e saneamento básico, melhores condições de educação dos filhos e aumento da auto-estima.
Entre as queixas: falta de água para produção agropecuária, desemprego, dificuldade de vivência comunitária e associativismo devido à falta de preparo para a vivência na vila, e o fato de não ter havido participação dos vileiros no planejamento das vilas.
O governo do Paraná construiu 108 vilas, com 5.184 casas. (JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO)


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