Para a atriz Fernanda Torres, 32, que interpretou a guerrilheira Maria no filme "O que É Isso, Companheiro?", indicado para concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro, a festa do Shrine Auditorium deve ser chata como um show da Broadway. "Mas é muito emocionante assistir a tudo junto com aqueles ETs."
Antes de embarcar na sexta-feira para Los Angeles, ela disse que tem mais curiosidade a respeito dos atores mais velhos, os "dinossauros", mas adoraria ver de perto Leonardo DiCaprio. Disse ainda que não corre o risco de se sentir desenturmada na festa e que ficou muito orgulhosa com a premiação de sua mãe, Fernanda Montenegro, em Berlim.
Existe diferença entre ganhar em Cannes e concorrer em Hollywood?
Hollywood, cara, é a indústria do cinema americano. Cannes tem mais a ver com filmes de arte e sempre há ali uma boa vontade maior com o Terceiro Mundo.
Qual a fantasia que você faz de uma festa do Oscar?
Eu acho que é como um show da Broadway, chato pra burro, só que com seis horas de duração. Por outro lado, é emocionante estar ali com aqueles ETs todos. Porque eu sempre acho que aquelas pessoas não são de carne e osso.
Quais os prêmios que você mais gosta de ver?
O prêmio oferecido aos injustiçados, àquelas pessoas que nunca receberam um Oscar. Esses são os que mais me emocionam.
Há algum astro que você gostaria de ver de perto?
Olha, eu já vi o Gary Cooper e fiquei superemocionada. Eu tenho preferência pelos mais velhos. Jack Nicholson, sei lá, Kevin Spacey, deixa eu ver uma linda...
A Sharon Stone, por exemplo, que não é velha, mas é uma estrelona, você tem curiosidade de ver de perto?
Eu não ligo muito para a Sharon, não. Eu gosto dos da velha guarda, dos dinossauros. Por exemplo, eu conheci o (Robert) Altman na casa do Bruno (Barreto) e fiquei emocionada pra caramba.
Você tem filme favorito?
Esse ano eu não tenho, não. Eu torci muito pelo Kevin Spacey em "Os Suspeitos"... Esse ano eu acho que não tem ninguém...O favorito é "Titanic", mas eu não gostei muito do Titanic.
Não?
Achei incrível o navio afundando. Mas o mais incrível é eles gastarem tanto dinheiro para fazer um filme incrível e não conseguirem resolver o mais barato -embora talvez o mais difícil- que é o roteiro. É tão mecânico... Eu me recuso a achar o máximo um filme cuja principal cena de amor seja de duas pessoas cuspindo no mar.
É um filme de produção.
Sim, a produção é fabulosa. Eu adoro os filmes do (James) Cameron, mas fiquei chocada ao ver como o roteiro é científico. Deveriam ter gastado um pouco mais de grana com idéias... Ah!, tem um ator que eu quero ver de perto! Imagina, lógico, o Leonardo DiCaprio!
Acha ele bonito?
(Debochando) Não...
Há mulheres que preferem homens mais maduros, justamente, os " dinossauros".
O Leonardo DiCaprio é bonito e tem carisma. Acho bacana ver um astro assim, de qualidade.
Para se proteger, muitos atores tímidos, aqui no Brasil, andam em grupo, ou, no mínimo, em dupla. Você acha que corre o risco de se sentir meio desenturmada no Shrine Auditorium?
Imagina, o Phillip Glass está indicado, é meu amigo; a Amy (Irving, mulher de Bruno Barreto) é minha amiga...E tem o meu melhor amigo, o Stokes Howell, que é um escritor norte-americano.
Já é um grupo.
A gente morre de rir juntos. O Phillip diz: "Você tem de arrumar o convite da festa da "Vanity Fair', porque nós vamos para lá depois". E eu: "Quero ver você perder da Barbra Streisand."
Sua mãe ( a atriz Fernanda Montenegro) já ganhou um prêmio no exterior e você também. Qual é a diferença de emoção?
Chorei igual a uma vaca quando minha mãe ganhou. É muito lindo porque mamãe subiu no palco...O palco é a casa dela. Ela estava gloriosa, uma rainha ali.
E quando você ganhou em Cannes (melhor atriz do festival, por "Eu Sei que Vou te Amar"), foi parecido?
É diferente. O meu prêmio foi um azarão. Com o da mamãe, o filme e ela eram um acontecimento. O dela foi por justiça, o meu foi uma surpresa. Para mim, foi um prêmio que me deram como se me dissessem: "Vai em frente, minha filha, que você tem talento." O da mamãe é "Caramba, quem é essa Ana Magnani (atriz italiana)?"



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