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"Nas reuniões, servimos de biombo"
DA REPORTAGEM LOCAL
De um lado, prefeituras que
ainda pensam em desenvolvimento exclusivamente como urbanização, construção de estradas
e de fábricas; a construção civil,
que quer garantir os lucros do
mercado imobiliário; e o setor industrial, que quer ampliar sua
produção, ocupando novas áreas.
Do outro lado, ambientalistas
que ainda confundem o conceito
de proteção da natureza com o de
isolamento total e esquecem a importância do componente humano nos ecossistemas.
No meio desse fogo cruzado, os
técnicos da Sema (Secretaria de
Estado do Meio Ambiente), tentando fazer interesses conflitantes
de inimigos históricos chegarem a
um consenso (ou perto disso).
"Nosso papel foi muito servir de
biombo mesmo, para eles não se
atracarem. Os radicalismos são
iguais, cada um quer defender
seus interesses e, muitas vezes, esquece o coletivo", diz José Antonio Nunes, coordenador de Planejamento Ambiental da Sema.
"Havia áreas em que o município previa expansão, e os ambientalistas queriam preservar. Os órgãos de infra-estrutura do Estado
tiveram muito conflito com os
ambientalistas, os municípios da
Baixada queriam ampliação do
porto", conta Elzira Dea Alves
Barbour, diretora do Departamento de Planejamento Ambiental Aplicado, que coordenou a
discussão na Baixada Santista.
A dificuldade de conciliação explica, de acordo com Nunes, a demora do processo de zoneamento, cujas discussões começaram
em 1991 e estão terminando agora
-dez anos depois.
No total, foram realizadas 116
reuniões com representantes do
governo do Estado, das prefeituras, de sindicatos, ONGs e da
Ciesp (Centro das Indústrias do
Estado de São Paulo).
Chegar a um denominador comum foi mais difícil na Baixada
Santista: 65 reuniões, um seminário, 12 vistorias externas e 88 pontos de conflito depois, chegou-se
finalmente a um acordo. A explicação é o fato de a região ser a
mais intensamente urbanizada.
No Vale do Ribeira, onde a discussão começou, o processo foi
mais tranquilo e já está concluído.
"A região vive uma situação muito peculiar. Em razão da sua carência, o Estado sempre esteve
mais presente lá. Os prefeitos são
mais conformados", diz Nunes.
Garantia
"A participação de todos na elaboração do zoneamento é fundamental para garantir que ele funcione; que as prefeituras apliquem, e a sociedade civil cobre",
defende o secretário de Meio Ambiente, Ricardo Tripoli.
Em muitos municípios, a Sema
está voltando a conversar com os
prefeitos, que foram eleitos no
ano passado e, por isso, não participaram das reuniões.
Nunes afirma, porém, que não
encontra muitos problemas porque os técnicos que discutiram o
assunto são quase sempre os mesmos.
(MV)
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