São Paulo, domingo, 22 de abril de 2001

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"Nas reuniões, servimos de biombo"

DA REPORTAGEM LOCAL

De um lado, prefeituras que ainda pensam em desenvolvimento exclusivamente como urbanização, construção de estradas e de fábricas; a construção civil, que quer garantir os lucros do mercado imobiliário; e o setor industrial, que quer ampliar sua produção, ocupando novas áreas.
Do outro lado, ambientalistas que ainda confundem o conceito de proteção da natureza com o de isolamento total e esquecem a importância do componente humano nos ecossistemas.
No meio desse fogo cruzado, os técnicos da Sema (Secretaria de Estado do Meio Ambiente), tentando fazer interesses conflitantes de inimigos históricos chegarem a um consenso (ou perto disso).
"Nosso papel foi muito servir de biombo mesmo, para eles não se atracarem. Os radicalismos são iguais, cada um quer defender seus interesses e, muitas vezes, esquece o coletivo", diz José Antonio Nunes, coordenador de Planejamento Ambiental da Sema.
"Havia áreas em que o município previa expansão, e os ambientalistas queriam preservar. Os órgãos de infra-estrutura do Estado tiveram muito conflito com os ambientalistas, os municípios da Baixada queriam ampliação do porto", conta Elzira Dea Alves Barbour, diretora do Departamento de Planejamento Ambiental Aplicado, que coordenou a discussão na Baixada Santista.
A dificuldade de conciliação explica, de acordo com Nunes, a demora do processo de zoneamento, cujas discussões começaram em 1991 e estão terminando agora -dez anos depois.
No total, foram realizadas 116 reuniões com representantes do governo do Estado, das prefeituras, de sindicatos, ONGs e da Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo).
Chegar a um denominador comum foi mais difícil na Baixada Santista: 65 reuniões, um seminário, 12 vistorias externas e 88 pontos de conflito depois, chegou-se finalmente a um acordo. A explicação é o fato de a região ser a mais intensamente urbanizada.
No Vale do Ribeira, onde a discussão começou, o processo foi mais tranquilo e já está concluído. "A região vive uma situação muito peculiar. Em razão da sua carência, o Estado sempre esteve mais presente lá. Os prefeitos são mais conformados", diz Nunes.

Garantia
"A participação de todos na elaboração do zoneamento é fundamental para garantir que ele funcione; que as prefeituras apliquem, e a sociedade civil cobre", defende o secretário de Meio Ambiente, Ricardo Tripoli.
Em muitos municípios, a Sema está voltando a conversar com os prefeitos, que foram eleitos no ano passado e, por isso, não participaram das reuniões.
Nunes afirma, porém, que não encontra muitos problemas porque os técnicos que discutiram o assunto são quase sempre os mesmos. (MV)


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