São Paulo, domingo, 22 de abril de 2001

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Migração ocorre com maior força no litoral de SP

FAUSTO SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS

Os alvos do mais intenso fluxo migratório registrado em São Paulo nos últimos cinco anos são três cidades do litoral. A expansão populacional fez desses municípios os únicos do Estado a figurar entre os 50 com as maiores taxas médias de crescimento no país, segundo dados do IBGE.
De acordo com os resultados preliminares do censo 2000, Ilha Comprida, no litoral sul, ocupa o 11º lugar no ranking nacional de crescimento da população, com uma taxa média anual de 17,78%. Bertioga, na Baixada Santista, é a 16ª (16,11%) e Ilhabela (litoral norte), a 48ª (12,18%).
No ranking, os três municípios são os únicos do Sudeste em um universo no qual predominam localidades das regiões Norte (28 cidades) e Centro-Oeste (11).
Taxas tão elevadas de crescimento populacional fizeram, em cinco anos (de 96 a 2000), o número de habitantes nas três cidades paulistas aumentar mais que a metade (Ilhabela) ou quase dobrasse (Ilha Comprida), segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
De 3.434 habitantes em 1996, Ilha Comprida saltou para 6.608 em 2000 (92,42% a mais). No mesmo período, o "boom" populacional de Bertioga ampliou em 81,76% o total de habitantes da cidade (de 17.002 para 30.903). Os 13.100 de Ilhabela em 1996 se transformaram em 20.744 em 2000, um acréscimo de 58,35%.
A pesquisadora Rosana Baeninger, do Nepo/Unicamp (Núcleo de Estudos da População), diz que a migração rumo ao litoral é uma tendência dos anos 80 em São Paulo e está relacionada à expansão da atividade turística.
Segundo ela, a proliferação de casas de veraneio e condomínios destinados a pessoas de alta renda cria uma demanda de serviços que atrai migrantes de outros Estados, em especial nordestinos.
Estabelecida uma corrente migratória, segundo ela, os fluxos futuros deixam de ser motivados exclusivamente pela busca do emprego e passam a refletir o vínculo entre migrantes antigos e seus familiares, que ficaram nas regiões de origem.
Por isso, Baeninger alerta para a necessidade de os municípios adotarem ações adequadas, a fim de se evitar a desorganização do espaço urbano.
A demógrafa Nilza de Oliveira Martins Pereira, do Departamento de População e Indicadores Sociais do IBGE, aponta ainda uma tendência de procura do litoral por moradores das capitais da região Sudeste em busca de melhor qualidade de vida.
Segundo Nilza, fenômeno semelhante -porém não tão acentuado- ocorre com pequenas cidades litorâneas do Espírito Santo (Piúma, Guarapari, Marataízes) e do Rio de Janeiro (Rio das Ostras, Armação de Búzios).
Para as prefeituras de Ilha Comprida, Bertioga e Ilhabela, o crescimento das populações locais não é tão acentuado quanto informam os números do IBGE devido a distorções resultantes de supostas falhas na coleta de dados efetuada pelo instituto em 1996.
"O levantamento de 96 falseia a realidade. Esse aumento de 92% é irreal. Nossos números apontam um crescimento de 45%", afirmou Roberto Luiz Silva Júnior, assessor de Planejamento da Prefeitura de Ilha Comprida.
Segundo ele, em 96, recenseadores classificavam como casas de veraneio todas as moradias onde não havia ninguém no momento da coleta dos dados. "Isso aconteceu muito no litoral."
A diretora municipal de Planejamento de Ilhabela, Cristiana Isola, aponta defasagem nos 13.100 moradores que o IBGE atribuía à cidade em 96. "Na época, já havia 17 mil. Pela informação do IBGE, parece que o crescimento é vertiginoso. Mas não é tão acentuado assim."
A assessoria do IBGE informou que um dos objetivos da contagem populacional de 1996 foi justamente atender a demanda das prefeituras, que contestavam dados do censo de 1991. De acordo com o instituto, os recenseadores recebem treinamento e obedecem a critérios técnicos a fim de se evitar distorções.


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