São Paulo, domingo, 22 de abril de 2001

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Paciente pensou em sacrificar sua virilidade

DA REDAÇÃO

L. está na faixa dos 40 anos e descobriu há menos de um ano que tem depressão. Em seu tratamento, ele caiu, como relata, na "armadilha sexual" do antidepressivo: saiu de um quadro de depressão com transtorno sexual leve para um tratamento que, apesar de eficiente, causou perda total da libido como efeito colateral, o que o deixou deprimido.
Segundo L., a descoberta da doença significou um choque e um alívio. Um choque por saber que tem um mal estigmatizado precipitadamente como sendo relacionado a pessoas "fracas" ou "problemáticas". E um alívio porque finalmente encontrou explicação para a série de problemas que enfrentava há anos e que culminara com a apavorante idéia de colocar fim à própria vida.
O diagnóstico de depressão foi dado por um psiquiatra, que partiu para o ataque frontal: tratamento com fluoxetina, princípio ativo do medicamento Prozac.
O que, a princípio, também foi um problema, por causa das informações "controvertidas" sobre o medicamento.
No entanto, L. aceitou o desafio -segundo diz, faria qualquer coisa para sair do "limbo" em que se encontrava.
Ainda segundo seu relato, o tratamento teve resultados excelentes. A não ser por um pouco de euforia e um tremor nas mãos em alguns momentos do dia, tudo parecia estar bem: a volta da auto-estima, o fim da melancolia e do pessimismo, a ausência das idéias fixas e dos maus pensamentos e da falta de perspectivas etc.
Tudo ia tão bem que ele demorou para se dar conta de que sua atividade sexual tinha diminuído para frequências ainda menores do que quando estava deprimido.
Ele custou a relatar o problema para seu médico. L. tinha o receio de que tivesse de abandonar o medicamento e a depressão voltasse. Chegou a pensar, afirma, que valia a pena sacrificar a vida sexual em nome do bem-estar que estava vivenciando pela primeira vez após muito tempo.
Mas uma conversa com o especialista o fez mudar de idéia. Segundo o médico, a ausência de uma vida sexual normal impediria que o tratamento pudesse ser considerado bem-sucedido, porque ele não alcançaria a qualidade de vida desejável.
A solução foi tentar outro medicamento, cuja substância ativa é reconhecidamente menos prejudicial ao desempenho sexual.
Foi escolhida a bupropiona, na forma do medicamento Wellbutrin. A depressão permaneceu sob controle e sua atividade sexual voltou a níveis aceitáveis.
O problema que apareceu, com a mudança, foi de ordem econômica: o medicamento é importado e cada comprimido custa cerca de R$ 4. O Prozac é vendido por cerca de R$ 3,50; já o genérico de fluoxetina é comercializado por R$ 1,40, segundo tabela do Ministério da Saúde.


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