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São Paulo, terça-feira, 22 de abril de 2003

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SAÚDE DA FAMÍLIA

Falta de visibilidade política é apontada como obstáculo; municípios destacam bons resultados do PSF

Programa teve resistências em SP e no Rio

DA REPORTAGEM LOCAL

São Paulo, início de 2003: a decisão da prefeita Marta Suplicy (PT) de não expandir o Programa Saúde da Família é um dos motivos que leva à demissão o secretário da Saúde, Eduardo Jorge, que não concordava com a mudança.
Desfecho semelhante teve a proposta de expansão apresentada no Rio de Janeiro em 2001: a questão do PSF foi um dos vários motivos de choque entre o prefeito Cesar Maia (PFL) e o então secretário da Saúde, Sérgio Arouca, que deixou o cargo.
"Toda a vez em que se tenta fazer a expansão em uma grande cidade, há uma resistência enorme", diz Arouca, hoje secretário de Gestão Participativa do Ministério da Saúde. "Primeiro porque isso rompe interesses do setor hospitalar. Outra questão é o problema de visão política. O PSF não tem um impacto tão rápido, não tem prédio para inaugurar, algo simbólico para fazer factóide."
Segundo Arouca, Maia dizia temer a rapidez do avanço. A expansão no Rio começaria por regiões de exclusão social, selecionadas pelo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), principalmente a zona norte, considerada um "deserto sanitário".
O Rio tem hoje a menor cobertura de PSF do país. A prefeitura informou que não comentaria assunto de uma gestão anterior da Secretaria da Saúde. Apresentou dado diferente sobre a cobertura e informou que o PSF crescerá.
Em um estudo sobre o programa, realizado pela Faculdade de Medicina da USP, a maioria dos municípios com mais de 100 mil habitantes respondeu que, apesar dos problemas, da falta de dinheiro, quer continuar a expansão do PSF por saber dos bons resultados e, principalmente, de suas altas taxas de aprovação e de sua visibilidade política.
Para o ex-secretário Eduardo Jorge, é justamente a questão da visibilidade política que causa a resistência de alguns prefeitos.
"O programa tem muito mais cara do governo federal e isso deixa os políticos ressabiados. Vale do PT até o PFL."
A prefeitura paulistana anunciou que passará a privilegiar a área hospitalar nos investimentos da saúde para equilibrar o sistema, que vinha sendo mal avaliado em pesquisas internas. As mesmas pesquisas, no entanto, mostrariam alta aprovação do PSF.
"Para mim, a decisão da prefeita de parar o PSF ainda é um mistério. Acredito que em três meses mudarão de idéia", afirmou Jorge. "Será que a prefeita não sabe e nem reconhece os ganhos do PSF? Ou não dispõe de tempo para vir a Brasília, para dialogar com o governo federal sobre as suas políticas prioritárias de saúde? Evitaria os desencontros e caminharia em sintonia com o governo federal", diz Maria Fátima de Sousa, ex-coordenadora do Programa de Agentes Comunitários -o embrião do saúde na família. Sousa assessorou Jorge na implantação do programa em São Paulo.
Até janeiro deste ano, pouco antes da decisão da prefeitura de parar a expansão, São Paulo contabilizava 531 equipes completas (com médico, enfermeiro, dois auxiliares de enfermagem e seis agentes comunitários de saúde) e 170 sem médico.
Enquanto em algumas regiões as equipes trabalham somente na lógica do programa (assistindo a população cadastrada), em outras os dirigentes tiveram de criar um sistema misto para evitar problemas com a alta demanda-já que o programa ainda não atende toda a população. As equipes fazem atendimento tradicional, dentro do posto de saúde, com hora marcada ou não. A Prefeitura de São Paulo ainda não tem uma avaliação do impacto do PSF na cidade passados dois anos.
O Ministério da Saúde relaciona ao programa o aumento das consultas de pré-natal, queda da mortalidade infantil, das taxas de desnutrição e das internações. (FL)


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