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SAÚDE DA FAMÍLIA
Falta de visibilidade política é apontada como obstáculo; municípios destacam bons resultados do PSF
Programa teve resistências em SP e no Rio
DA REPORTAGEM LOCAL
São Paulo, início de 2003: a decisão da prefeita Marta Suplicy
(PT) de não expandir o Programa
Saúde da Família é um dos motivos que leva à demissão o secretário da Saúde, Eduardo Jorge, que
não concordava com a mudança.
Desfecho semelhante teve a
proposta de expansão apresentada no Rio de Janeiro em 2001: a
questão do PSF foi um dos vários
motivos de choque entre o prefeito Cesar Maia (PFL) e o então secretário da Saúde, Sérgio Arouca,
que deixou o cargo.
"Toda a vez em que se tenta fazer a expansão em uma grande cidade, há uma resistência enorme", diz Arouca, hoje secretário
de Gestão Participativa do Ministério da Saúde. "Primeiro porque
isso rompe interesses do setor
hospitalar. Outra questão é o problema de visão política. O PSF não
tem um impacto tão rápido, não
tem prédio para inaugurar, algo
simbólico para fazer factóide."
Segundo Arouca, Maia dizia temer a rapidez do avanço. A expansão no Rio começaria por regiões de exclusão social, selecionadas pelo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), principalmente a zona norte, considerada
um "deserto sanitário".
O Rio tem hoje a menor cobertura de PSF do país. A prefeitura
informou que não comentaria assunto de uma gestão anterior da
Secretaria da Saúde. Apresentou
dado diferente sobre a cobertura e
informou que o PSF crescerá.
Em um estudo sobre o programa, realizado pela Faculdade de
Medicina da USP, a maioria dos
municípios com mais de 100 mil
habitantes respondeu que, apesar
dos problemas, da falta de dinheiro, quer continuar a expansão do
PSF por saber dos bons resultados
e, principalmente, de suas altas taxas de aprovação e de sua visibilidade política.
Para o ex-secretário Eduardo
Jorge, é justamente a questão da
visibilidade política que causa a
resistência de alguns prefeitos.
"O programa tem muito mais
cara do governo federal e isso deixa os políticos ressabiados. Vale
do PT até o PFL."
A prefeitura paulistana anunciou que passará a privilegiar a
área hospitalar nos investimentos
da saúde para equilibrar o sistema, que vinha sendo mal avaliado
em pesquisas internas. As mesmas pesquisas, no entanto, mostrariam alta aprovação do PSF.
"Para mim, a decisão da prefeita
de parar o PSF ainda é um mistério. Acredito que em três meses
mudarão de idéia", afirmou Jorge. "Será que a prefeita não sabe e
nem reconhece os ganhos do PSF?
Ou não dispõe de tempo para vir a
Brasília, para dialogar com o governo federal sobre as suas políticas prioritárias de saúde? Evitaria
os desencontros e caminharia em
sintonia com o governo federal",
diz Maria Fátima de Sousa, ex-coordenadora do Programa de
Agentes Comunitários -o embrião do saúde na família. Sousa
assessorou Jorge na implantação
do programa em São Paulo.
Até janeiro deste ano, pouco antes da decisão da prefeitura de parar a expansão, São Paulo contabilizava 531 equipes completas
(com médico, enfermeiro, dois
auxiliares de enfermagem e seis
agentes comunitários de saúde) e
170 sem médico.
Enquanto em algumas regiões
as equipes trabalham somente na
lógica do programa (assistindo a
população cadastrada), em outras
os dirigentes tiveram de criar um
sistema misto para evitar problemas com a alta demanda-já que
o programa ainda não atende toda a população. As equipes fazem
atendimento tradicional, dentro
do posto de saúde, com hora marcada ou não. A Prefeitura de São
Paulo ainda não tem uma avaliação do impacto do PSF na cidade
passados dois anos.
O Ministério da Saúde relaciona
ao programa o aumento das consultas de pré-natal, queda da mortalidade infantil, das taxas de desnutrição e das internações.
(FL)
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