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Parentes enfrentam apreensão e escassez
IURI DANTAS
ENVIADO ESPECIAL A PORTO VELHO (RO)
Desde o início da rebelião de
detentos no presídio Urso Branco, cerca de 150 parentes e amigos
dos presos aguardam ao lado da
penitenciária por notícias. O clima é de apreensão e escassez: a
maioria come apenas biscoitos e
bebe refrigerantes. Não há uma
ambulância no local nem área para higiene pessoal.
A reportagem é recebida com
um misto de desconfiança e desespero, como se fosse possível
trazer notícias mais recentes sobre a evolução das negociações
com o governo. Mãe de um menino de dois anos e grávida de sete
meses, Viviane acendeu um cigarro, disse ter 21 anos, mas aparentava não ter mais de 17.
Não quis dar o sobrenome. O
marido cumpre pena por tráfico
de drogas. "O apoio dele é a gente
aqui fora", resume. O marido está
envolvido com a rebelião. "Não
tem como não se envolver. Ele
precisa para continuar vivo."
Segundo ela, a rebelião estava
sendo planejada desde dezembro,
como protesto contra supostos
maus-tratos praticados pela direção. "Isso aí é uma forma de se defender. São espancados, surrados.
Outro dia o diretor botou todos
no pátio, mandou tirar a camisa e
jogou pimenta malagueta nas
costas deles."
Também esperando notícias de
seu marido, Kedma, 21, disse que
ele não precisaria estar lá: "Está
com a pena vencida faz um ano e
dois meses e não consegue sair".
Mãe de Salatiel de Oliveira Filho, 23, a comerciante Maria Aparecida Silva Oliveira, 47, afirmou
que tenta transferi-lo de Urso
Branco desde janeiro para Cuiabá, onde mora. Sua principal dificuldade é o dinheiro. Foi informada de que teria que pagar a passagem dele e de dois policiais militares, além de suas hospedagens,
para a transferência ocorrer.
Salatiel de Oliveira, pai do detento, ironizou: "Devem estar esperando ele morrer para transferir". Seu filho era uma das 24 pessoas amarradas, selecionadas para morrer pelos detentos. Antes
de ser morto no topo da caixa-d'água, Salatiel conseguiu se desvencilhar e pulou de uma altura
de 26 metros. Quebrou as pernas,
mas conseguiu ser encontrado
por policiais e aguarda o fim da
rebelião para deixar o "seguro".
Negociação
A Comissão de Justiça e Paz da
Arquidiocese de Porto Velho não
tem mais legitimidade para negociar com os detentos rebelados do
presídio Urso Branco, em Rondônia, porque o governo estadual
não vem honrando os acordos firmados em outras ocasiões semelhantes. A avaliação é do padre
Paulo Tadeu Barausse, da própria
comissão. "Estamos desgastados
com os presos", afirmou.
Segundo ele, os detentos vem se
alimentando de gatos, que são
mortos no interior do presídio e
assados em fogueiras, desde anteontem. Ele afirma que 75 presos
foram mortos em rebeliões nos
últimos três anos.
O padre conta que há pelo menos 15 dias informou a Promotoria e o governo estadual sobre a
iminência de uma rebelião. Segundo Barausse, 850 presos mantêm 159 mulheres e oito homens
reféns no interior do presídio.
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