São Paulo, quinta-feira, 22 de abril de 2004

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DOENÇA ESQUECIDA

Taxa de cura no país está abaixo da meta mundial; prioridade de novo programa é melhorar capacitação

Saúde comunitária combaterá tuberculose

DA REPORTAGEM LOCAL

O programa de combate à tuberculose lançado oficialmente neste mês pelo governo federal quer transformar a doença em problema para as equipes com médico, enfermeiro e agentes comunitários do PSF (Programa Saúde da Família).
Apenas 28% das cerca de 17 mil equipes ativas do programa no ano de 2002 tratavam a tuberculose, segundo pesquisa feita pelo Ministério da Saúde. Em vez de diagnosticar e acompanhar o paciente -a detecção e a assistência à doença são consideradas simples e baratas-, a maioria passava o problema para a frente, encaminhando os doentes para outros serviços, como hospitais.
O Brasil é o maior produtor de casos da doença nas Américas e o 15º entre os 22 do mundo com maior número absoluto de doentes. Está atrás de países africanos e asiáticos com grandes populações, como a China.
Mais de 80 mil casos são descobertos por ano e a taxa de cura, de 71,9%, está distante da meta para 2005 do movimento global contra a tuberculose, o Stop TB: 85%. Rio de Janeiro e Amazonas são os estados campeões em incidência (casos por 100 mil habitantes).
"O SUS [Sistema Único de Saúde] tem feito menos do que deveria", diz o secretário de Vigilância em Saúde do ministério, Jarbas Barbosa, que na última terça esteve em São Paulo para o lançamento do programa na região Sudeste.
O combate à tuberculose é uma das 12 prioridades do ministério. A idéia é fazer lançamentos regionais do programa para que ele também "entre na agenda" de Estados e municípios, afirma o secretário. "Como não dá epidemia, é uma doença esquecida."
O ministério anunciou um investimento de R$ 119,5 milhões até 2007 para o combate a doença. Barbosa destaca que o país já tem o mais caro: uma rede de programas e serviços de saúde capaz de reverter o quadro da doença. Outros US$ 15 milhões foram solicitados ao fundo global de combate à malária, tuberculose e Aids.
"Estamos falando em 80 mil doentes e um tratamento que custa apenas US$ 10. O grande investimento é a capacitação", diz Barbosa. "Não podemos ter um Programa de Saúde da Família que não diagnostica".

Prevenção
O PSF é um programa que envolve cuidados preventivos e assistência humanizada, considerado um "reorganizador" da rede de saúde -serve como porta de entrada do sistema.
As equipes buscam e tratam os casos simples e só deveriam encaminhar os graves. Financiado em parte pelo ministério, é gerido pelos municípios, em geral, e deve ter o acompanhamento dos governos estaduais.
O ministério promete capacitar 10 mil equipes até 2005 e mobilizar organizações sociais para melhorar a detecção e a cura -é preciso incentivo e acompanhamento para que o paciente não abandone o tratamento, o que custa muito aos cofres públicos. A tuberculose pode se agravar e se tornar resistente a um grande número de antibióticos.
O preço do tratamento chega a US$ 200 para pacientes com resistência às drogas.
A idéia é que, nos 280 municípios prioritários, garanta-se pelo menos uma visita semanal do doente ao posto. (FABIANE LEITE)


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