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PREFEITURA
Informalidade do projeto organizado por Nicéa Pitta contraria leis
SP autorizou a exploração irregular de praças natalinas
GONZALO NAVARRETE
da Reportagem Local
A Prefeitura de São Paulo autorizou empresas particulares a explorar de forma irregular propaganda
em 36 áreas públicas que integraram o projeto Praças Natalinas.
A irregularidade consistiu em
permitir a publicidade sem que isso fosse formalizado, contrariando
as leis sobre o assunto.
O projeto foi idealizado pela primeira-dama Nicéa Pitta, que pediu
no final do ano passado aos 27 administradores regionais que buscassem recursos financeiros junto
a comerciantes e empresários de
suas áreas para viabilizar o projeto.
Em troca do patrocínio, as empresas puderam expor os seus nomes em peças publicitárias instaladas nas praças municipais.
Um dos patrocinadores do projeto foi a Associação dos Lojistas
do Brás, presidida por Wehbe Dawalibi, o Jô, foragido desde que teve a a prisão temporária decretada,
em fevereiro.
No inquérito que apura a ação da
máfia da propina, testemunhas dizem que a entidade recolhia dinheiro para a campanha a deputado estadual de Hanna Garib, que
controlava a Regional da Sé.
A associação instalou um totem
publicitário, que custou R$ 1.596,
na praça da República, área da Regional da Sé.
A informação é da Plamarc, um
dos fornecedores que foram indicados aos regionais -por escrito- pela primeira-dama, presidente do Casa (Centro de Apoio
Social e Atendimento).
O advogado de Dawalibi, Luiz
Flávio D"Urso, afirmou que o presidente da associação está incomunicável e que não poderia comentar sua participação no projeto.
Informalidade
A lei municipal 12.115/96, que regulamenta termos de cooperação
com a iniciativa privada em locais
públicos, permite a exploração de
publicidade dos patrocinadores
após a assinatura de termos de
cooperação e desde que o acordo
seja publicado na íntegra no "Diário Oficial do Município".
O projeto Praças Natalinas, no
entanto, foi desenvolvido na informalidade, sem termos assinados.
Cinco empresas -entre doadores, fornecedores e patrocinadores- confirmaram à Folha que
nem o Casa (Centro de Apoio Social e Atendimento) nem as administrações regionais apresentaram
propostas formais do projeto.
Também não emitiram comprovantes para as doações recebidas
nem autorização oficial para exploração publicitária das praças.
As empresas ouvida são: a Padovano Associados Arquitetura, que
afirma ter doado os desenhos; a
Plamarc, que forneceu e doou tótens publicitários; a Phillips, fez
doações de 4.000 lâmpadas sem receber recibo, e a Cavo, que adquiriu um totem em praça natalina de
Moema -região onde realiza o
serviço de varrição e coleta do lixo.
A empresa informou, por meio
de sua assessoria de imprensa, que
recebeu proposta para participar
do projeto diretamente da empresa Plamarc.
A Plamarc, por sua vez, alega que
foi procurada diretamente pelas
empresas patrocinadoras.
A assessoria de imprensa da empreiteira informou que a empresa
deduziu que a autorização para a
divulgação do nome da empresa
no totem publicitário -que custou R$ 1.596- já estaria embutida
na proposta de participação no
projeto.
"A informalidade do projeto não
combina com a administração pública, que se rege pela formalidade
dos seus atos", disse o presidente
do Instituto dos Advogados de São
Paulo, Rui Reali Fragoso.
"Outras pessoas poderiam ter
vontade de participar, mas não ficaram sabendo porque o processo
ficou restrito a quem foi procurado pelos regionais."
O advogado Floriano Azevedo
Marques Neto também defende
que a administração, mesmo sem
envolver verba pública, não poderia oferecer publicidade em praças
sem seguir um procedimento formal (edital ou licitação).
O Ministério Público instaurou,
em março, inquérito civil para
apurar possíveis irregularidades
cometidas pela primeira-dama Nicéa Pitta no projeto Praças Natalinas. As investigações devem apurar se houve algum tipo de improbidade administrativa ou favorecimento no processo.
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