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OUTRO LADO
Para o prefeito do Rio de Janeiro, combate ao crime organizado depende de outras iniciativas públicas
"Programa não elimina tráfico", diz Conde
Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
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Moradora passa por rua asfaltada em Fernão Cardim, onde as obras do Favela Bairro terminaram |
ANTONIO CARLOS DE FARIA
DA SUCURSAL DO RIO
O prefeito do Rio, Luiz Paulo
Conde (PFL), 65, diz que o Favela
Bairro não acabou com a ação de
traficantes, pois isso depende de
mais iniciativas, como um maior
investimento no policiamento urbano e das fronteiras.
Mesmo assim, ele acredita que o
melhor resultado possível não será o fim desse tipo de crime, mas
colocá-lo na clandestinidade, acabando com o poder dos traficantes sobre as favelas.
Conde justifica o slogan "Favela
Bairro - o maior projeto social do
mundo", usado em outdoors da
prefeitura, dizendo que não conhece lugar com investimento semelhante. A seguir, os principais
trechos de sua entrevista.
Folha - Por que a prefeitura diz
que o Favela Bairro é o maior projeto social do mundo?
Luiz Paulo Conde - É o maior
porque acredito que em lugar nenhum do mundo esteja se investindo R$ 1,2 bilhão em um programa dessa natureza. Temos,
além de recursos próprios, financiamentos do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento),
da CEF (Caixa Econômica Federal) e da União Européia, o que está permitindo a extensão do projeto. Desde 1963, participo de seminários no Brasil sobre reforma
urbana e foram feitas várias experiências para resolver os problemas de comunidades carentes. O
Favela Bairro é uma evolução das
idéias anteriores. É a constatação
de que há favelas que fazem parte
da história da cultura carioca.
Folha - Quais as principais qualidades do projeto?
Conde - Respeitar as relações
culturais existentes nas favelas e
reconhecer que existe em qualquer favela um grande investimento feito pelos seus próprios
moradores. No Favela Bairro
abrimos ruas, criamos praças,
criamos limites para as favelas,
empregando operários que moram na própria comunidade.
Além disso, o projeto valoriza as
casas dos favelados, o que os incentiva a melhorar suas moradias.
Essas iniciativas estão valorizando também a auto-estima dos favelados, eles estão sentindo orgulho de onde moram.
Folha - Há um pensamento estabelecido de que o tráfico prospera
nos locais onde o Estado não se faz
presente. O Favela Bairro é uma
resposta para isso?
Conde - O Favela Bairro diminuiu a violência onde foi implantado. Conheço bem os Estados
Unidos, Paris, onde há áreas em
que não se entra. Quando uma favela deixa de ser um labirinto, a
tendência é diminuir o tráfico.
Agora, as disputas de quadrilhas
por pontos-de-venda de drogas
existem em todo mundo. No Rio,
devido à proximidade das favelas,
a entrada do tráfico criou muitos
problemas. Nosso problema não
é acabar com a criminalidade, o
que não se conseguiu em lugar
nenhum do mundo, mas colocar
o crime na clandestinidade. O Favela Bairro é um instrumento sério, forte e decisivo para isso.
Folha - Das 27 favelas onde o Favela Bairro terminou, 20 ainda continuam com tráfico. Por que a situação não mudou?
Conde - O tráfico existe em todos
os lugares. A solução para isso só
virá com um conjunto de iniciativas. Favela Bairro, educação, saúde, crescimento econômico e investimento em policiamento vão
fazer a situação melhorar. Os governos federais nunca deram importância para essa questão, as
rotas do tráfico são internacionais
e federais. Agora é que estão reestruturando a Polícia Federal. Tem
de ter investimento no policiamento urbano. Se não houver, as
cidades serão invadidas e dominadas pelo tráfico, como aconteceu na Colômbia e nos EUA.
Folha - O Favela Bairro criou só
nove cooperativas, dentro do programa de geração de renda. Isso
não é pouco?
Conde - Nós criamos uma Secretaria Municipal do Trabalho, o
que não existia. As leis ainda inibem o funcionamento de cooperativas. Eu prefiro formar bem
menos cooperativas do que formar muitas e mal. Há essa mania
de fazer muitas coisas de forma
malfeita, só para dizer que se fez.
O problema social não será resolvido de uma hora para outra e a
cooperativa é um dos incentivos
do Favela Bairro, mas não é o único. Há os garis comunitários, as
creches, todos criando empregos.
Folha - Como o senhor responde
às críticas sobre a qualidade das
obras? Há reclamações de que até
piorou a situação de moradores em
algumas comunidades. O Crea
(Conselho Regional de Engenharia
e Arquitetura) diz que a prefeitura
não fiscaliza a qualidade das obras.
Conde - No espaço de dez anos,
caso eu seja reeleito, o Favela Bairro vai colocar 90% da população
favelada do Rio em situação resolvida. Quanto à qualidade de obra,
há obras bem-feitas e malfeitas.
Mas a cada dia estamos melhorando, porque estamos aprendendo a fazê-las nas favelas. Agora, estamos em um ano eleitoral,
quando se aproveita para fazer
reivindicações. Em Três Pontes,
os prejudicados estão numa comunidade ao lado da área beneficiada. No Borel, transferimos todos os moradores de área de risco
que concordaram em sair, mas
não podemos fazer isso se não
quiserem. O Crea devia se preocupar com o exercício da profissão
de arquiteto e engenheiro, com a
qualidade das escolas. Essas frases
de efeito não me emocionam.
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