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DROGAS
Programas de redução de danos, que distribuirão 2 milhões de seringas este ano, não atingem classes médias e altas
Troca de seringas "caça" usuário de elite
AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE
Entidades de Saúde estudam
formas para chegar aos usuários
de cocaína injetável "escondidos"
nas classes média e alta.
Entre os cerca de 15 mil dependentes desse uso alcançados pelos
programas que trocam seringas,
quase todos são das classes média-baixa e baixa e 82% deles não
têm emprego fixo.
Os 33 programas implantados
no país devem "trocar" neste ano
2 milhões de seringas. É o dobro
do ano passado, mas o universo
de usuários de injetáveis atingido
não chegaria a 15%. Entre os que
estão de fora, estariam usuários
das classes mais altas.
"Sabemos que eles existem, mas
não sabemos quantos são, não temos acesso a eles nem conhecemos suas práticas", diz Denise
Gandolfi, do programa de Aids e
drogas do Ministério da Saúde.
A preocupação maior é com a
disseminação do vírus da Aids pelo uso coletivo de agulhas. No país
todo, um quinto dos casos da
doença foi provocado diretamente pelas injeções.
Em regiões como Itajaí, no litoral norte de Santa Catarina, 70%
dos que injetam drogas já estão
contaminados.
Fuga
A dificuldade é que os "usuários
de elite" tendem a fugir dos serviços públicos. Os programas de redução de danos trocam seringas,
levam preservativos e funcionam
como o único elo de acesso dos
dependentes aos serviços de Saúde. Os contatos são feitos nos
pontos de picos, barracos, casas
abandonadas ou terrenos baldios.
Aos usuários das classes mais
altas não faltam seringas -elas
custam R$ 0,30 nas farmácias -
nem locais seguros para se aplicar. Mas podem estar faltando informações e cuidados médicos,
suspeitam os especialistas. A melhor pessoa para dizer isso a eles
seriam os profissionais de saúde,
nos seus consultórios particulares. Para isso, precisariam ser melhor treinados e preparados nas
escolas de medicina.
"São estratégias que pretendemos aprofundar", diz a psicóloga
Denise Doneda, do programa de
Aids e drogas do ministério.
A preocupação com os "dependentes de elite" foi lembrada no
Seminário Sul-Americano de Redução de Danos Associados ao
Uso de Drogas, que aconteceu esta semana em Porto Alegre.
Representantes de sete países
participaram do encontro. No
continente, só o Brasil e a Argentina têm programas de redução de
danos para usuários de drogas injetáveis. No país, as primeiras tentativas começaram em Santos, em
1989. Em Buenos Aires, o programa tem um ano.
Porto Alegre foi escolhida como
sede do encontro porque neste
ano estará "trocando" 1 milhão de
seringas, metade do previsto nos
programas similares de todo o
país no mesmo período do ano
passado.
No final da sexta-feira, os participantes divulgaram a Carta de
Porto Alegre, conclamando os
países latino-americanos a iniciarem e ampliarem programas.
Também pediram a aprovação de
leis que garantam os programas
de redução. Até hoje, a troca de
seringas é considerada crime pela
lei de drogas em vigor.
Um dos mais importantes passos do seminário foi a decisão de
se iniciar programas de troca dentro dos presídios, o que significa
um reconhecimento de que há
drogas no interior das prisões.
Aureliano Biancarelli viajou a convite do
Seminário de Redução de Danos
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