São Paulo, sábado, 22 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bala perdida faz mais uma vítima no Rio de Janeiro

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

A doméstica Simone Paulina, 26, morreu na madrugada de ontem após ser atingida na cabeça por uma bala perdida durante tiroteio entre policiais militares e traficantes no bairro Jardim Catarina, no município de São Gonçalo (região metropolitana do Rio).
Em protesto, cerca de cem moradores fecharam a rua 39 (acesso a uma das favelas do bairro), incendiaram um ônibus e apedrejaram outro.
Em menos de uma semana, esta é a segunda morte causada por bala perdida no Estado do Rio. Na noite de domingo, o estudante Felipe de Sousa, 13, morreu ao ser atingido por uma bala perdida em um tiroteio entre traficantes rivais no morro do Adeus, em Bonsucesso (zona norte).
De acordo com a PM (Polícia Militar), policiais do 7º Batalhão ocuparam a favela por volta das 2h para averiguar a informação de que estava havendo no local um baile funk com venda de drogas.
A PM informou que, ao chegarem ao baile, os policiais foram recebidos a tiros por traficantes e reagiram. Simone, que estava em um bar aguardando o início do jogo entre Brasil e Inglaterra, foi baleada e morreu na hora.
A bala atravessou a cabeça da vítima e atingiu o pescoço do eletricista Osmar de Oliveira, 48, que também estava no bar. A bala ficou alojada em sua garganta.
Os moradores de Jardim Catarina apresentaram outra versão para o caso. Segundo eles, os policiais entraram na favela atirando e agrediram pessoas.
O protesto ocorreu por volta das 10h. Os moradores mandaram os passageiros descer e incendiaram o ônibus. Um outro ônibus que estava parado próximo à entrada da favela teve os vidros quebrados.
De acordo com o comandante da unidade, tenente-coronel Ricardo Furtado, a manifestação foi incitada por traficantes. Ninguém foi preso. Simone foi enterrada à tarde no cemitério dos Pachecos, em São Gonçalo.

Rotina
O protesto ocorrido ontem é uma rotina que vem se repetindo no Rio nos últimos anos. De acordo com levantamento da Fetranspor (Federação das Empresas de Transportes Rodoviários do Leste Meridional do Brasil), desde 1999, 302 ônibus foram apedrejados ou incendiados na região metropolitana do Rio. Só este ano foram 68 ocorrências.
Na última terça-feira, cinco ônibus foram incendiados e um apedrejado durante um protesto de moradores da favela Vila Cruzeiro, na Penha (zona norte) contra a morte de duas pessoas da comunidade pela Polícia Militar.
Segundo o superintendente da Fetranspor, Luís Carlos Urquiza Nóbrega, a destruição sistemática de ônibus já causou às empresas um prejuízo de cerca de R$ 11.620.000 desde 1999.
"Estamos demitindo gente e não renovamos nossa frota. Quem perde com isso é a população", declarou.
Nóbrega se reuniu ontem com o secretário estadual de Segurança Pública, Roberto Aguiar. No encontro, Aguiar disse que a PM realizará um trabalho para identificar as pessoas que incitam os moradores.
O presidente do Sindicato dos Rodoviários do Município do Rio, Antônio Filho, disse que a categoria está apavorada com a falta de segurança. Segundo ele, motoristas e cobradores estão se recusando a trabalhar em linhas que trafegam pelas zonas norte e oeste, onde fica o maior número de favelas. "Já teve um motorista que levou um tiro porque se recusou a parar em um ponto próximo à entrada de uma favela", afirmou.



Texto Anterior: Morte do jornalista: Corpo não era de Tim Lopes, diz exame de DNA
Próximo Texto: Rodoanel: Ritmo da obra cai, e entrega vai atrasar
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.