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Bala perdida faz mais uma vítima no Rio de Janeiro
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
A doméstica Simone Paulina, 26, morreu na madrugada de ontem após ser atingida na cabeça por uma bala perdida durante tiroteio entre policiais militares e
traficantes no bairro Jardim Catarina, no município de São Gonçalo (região metropolitana do Rio).
Em protesto, cerca de cem moradores fecharam a rua 39 (acesso
a uma das favelas do bairro), incendiaram um ônibus e apedrejaram outro.
Em menos de uma semana, esta
é a segunda morte causada por
bala perdida no Estado do Rio. Na
noite de domingo, o estudante Felipe de Sousa, 13, morreu ao ser
atingido por uma bala perdida em
um tiroteio entre traficantes rivais
no morro do Adeus, em Bonsucesso (zona norte).
De acordo com a PM (Polícia
Militar), policiais do 7º Batalhão
ocuparam a favela por volta das
2h para averiguar a informação de
que estava havendo no local um
baile funk com venda de drogas.
A PM informou que, ao chegarem ao baile, os policiais foram recebidos a tiros por traficantes e
reagiram. Simone, que estava em
um bar aguardando o início do jogo entre Brasil e Inglaterra, foi baleada e morreu na hora.
A bala atravessou a cabeça da vítima e atingiu o pescoço do eletricista Osmar de Oliveira, 48, que
também estava no bar. A bala ficou alojada em sua garganta.
Os moradores de Jardim Catarina apresentaram outra versão para o caso. Segundo eles, os policiais entraram na favela atirando
e agrediram pessoas.
O protesto ocorreu por volta
das 10h. Os moradores mandaram os passageiros descer e incendiaram o ônibus. Um outro
ônibus que estava parado próximo à entrada da favela teve os vidros quebrados.
De acordo com o comandante
da unidade, tenente-coronel Ricardo Furtado, a manifestação foi
incitada por traficantes. Ninguém
foi preso. Simone foi enterrada à
tarde no cemitério dos Pachecos,
em São Gonçalo.
Rotina
O protesto ocorrido ontem é
uma rotina que vem se repetindo
no Rio nos últimos anos. De acordo com levantamento da Fetranspor (Federação das Empresas de
Transportes Rodoviários do Leste
Meridional do Brasil), desde 1999,
302 ônibus foram apedrejados ou
incendiados na região metropolitana do Rio. Só este ano foram 68
ocorrências.
Na última terça-feira, cinco ônibus foram incendiados e um apedrejado durante um protesto de
moradores da favela Vila Cruzeiro, na Penha (zona norte) contra a
morte de duas pessoas da comunidade pela Polícia Militar.
Segundo o superintendente da
Fetranspor, Luís Carlos Urquiza
Nóbrega, a destruição sistemática
de ônibus já causou às empresas
um prejuízo de cerca de R$
11.620.000 desde 1999.
"Estamos demitindo gente e
não renovamos nossa frota.
Quem perde com isso é a população", declarou.
Nóbrega se reuniu ontem com o
secretário estadual de Segurança
Pública, Roberto Aguiar. No encontro, Aguiar disse que a PM
realizará um trabalho para identificar as pessoas que incitam os
moradores.
O presidente do Sindicato dos
Rodoviários do Município do
Rio, Antônio Filho, disse que a categoria está apavorada com a falta
de segurança. Segundo ele, motoristas e cobradores estão se recusando a trabalhar em linhas que
trafegam pelas zonas norte e oeste, onde fica o maior número de
favelas. "Já teve um motorista que
levou um tiro porque se recusou a
parar em um ponto próximo à entrada de uma favela", afirmou.
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