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"Só saio daqui para a Itália", afirma travesti
DA REPORTAGEM LOCAL
Em que lugar um travesti
pode tomar banho de sol na
piscina do prédio sem ser
importunado?, pergunta Celina Oliver, 24. "Só na Frei
Caneca", ela responde. Em
que lugar um travesti pode
andar de mãos dadas com
seu marido e ninguém fica
olhando?, ela quer saber. "Só
no shopping Frei Caneca."
É por isso que Oliver diz
que só troca a rua Frei Caneca pela Itália, um paraíso para os travestis brasileiros não
exatamente pela falta de preconceito, mas pela possibilidade de juntar dinheiro rápido. "Só saio daqui para ir
para a Itália", avisa.
Os travestis bem-sucedidos na Itália, na Espanha ou
na França são quase que
uma lenda na rua. Um corretor disse à Folha ter vendido
20 apartamentos num prédio de 174 para travestis que
fizeram dinheiro na Europa.
Elas formam uma espécie
de casta superior. Moram
nos prédios mais novos, andam com carros do ano e
passam seis meses na Europa. Nesta época do ano, é
inútil procurá-las na Frei Caneca. "Estão todas na Itália.
Elas ganham muito mais no
verão de lá", conta Fabíola
Mebarak, 21. A Frei Caneca,
segundo Oliver, virou também o endereço dos gays e
travestis que se deram bem
no mercado de sexo. Ela, por
exemplo, diz faturar de R$
4.000 a R$ 5.000 mensais.
O tipo de discriminação na
região é diferente, diz Oliver:
"O problema é gay discriminando travesti e sapatão discriminando gay." Tem até
cabeleireiro gay que não
aceita travesti como cliente.
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