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Morador de viaduto promete resistir à remoção da prefeitura
CAMILA TOSELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os moradores de rua que vivem
embaixo dos viadutos da cidade
de São Paulo pretendem resistir à
ação da prefeitura de removê-los.
Apesar de viverem em condições
precárias, eles temem que a prefeitura, que promete retirar moradores de 43 dos quase 200 viadutos por temer novos incêndios, os
leve para locais piores.
As famílias, que sobrevivem
dentro das estruturas dos viadutos, vivem sem água e utilizam
energia elétrica "puxada" de postes de iluminação. A maioria trabalha, mas conta com caridade.
Nenhuma das crianças estuda.
A Secretaria da Assistência Social (SAS) informou que os moradores de rua da cidade são 8.704,
mas não soube informar quantos
deles moram nessas condições.
Apesar da promessa de retirá-los
dos viadutos, a prefeitura ainda
não sabe dizer para onde irá
transferi-los. Uma das possibilidades é dar uma passagem para
que eles voltem às suas cidades de
origem.
Valdeci Fernandes, 32, que mora embaixo da ponte da Cidade
Universitária (zona oeste) com a
mulher e os quatro filhos, disse
que não sai de lá de jeito nenhum.
"Se o Pitta vier me tirar daqui, eu
volto. Nem que tenha que cavar
um buraco", afirmou Fernandes.
A família de Fernandes toma
banho de bacia com a água "doada" por um museu próximo à
ponte. "As necessidades a gente
faz aqui, tira e joga no esgoto, mas
ainda vou fazer um banheiro aqui
dentro", disse ele, que costuma fazer bicos e catar papelão.
A desempregada Rosilene Pereira dos Santos, 24, também mora embaixo da ponte da Cidade
Universitária com um filho de 5
anos, um colega e a irmã de 16
anos. "Se vierem tirar a gente daqui, vou ser obrigada a resistir",
afirmou Rosilene.
Ela disse que, se tivesse condições de comprar uma casa, não
estaria lá. Rosilene é soropositiva,
está grávida de 8 meses e o marido
foi preso. "Sobrevivemos porque
todo mundo ajuda."
"Aqui é bom porque não dependemos de ninguém", disse
Luciano Lúcio, 22, que mora embaixo de um viaduto próximo à
ponte da Casa Verde (zona norte)
com 15 colegas, incluindo três
meninas. O sonho dele é ter uma
família: "Aqui todo mundo se ajuda. O ruim é não ter família".
O catador de papelão Rogério
Alencar de Almeida tem 25 anos e
trouxe os outros para morarem
com ele debaixo do viaduto. "Vi
os meninos passando frio e fome
na estação e trouxe eles para cá.
Aqui a gente não fica sem comer",
disse Almeida.
Ele é o mais velho de todos e toma conta dos menores que têm
entre 11 e 16 anos. O catador afirmou que alguns dos meninos o
ajudam, outros "olham" carros
ou pedem dinheiro na estação.
"Pelo menos eles ficam longe da
violência e das drogas."
Gilcemar Batista Martins, 12,
morava na estação e foi levado para debaixo do viaduto por Almeida. "Depois que o meu pai morreu, minha mãe me mandava embora de casa toda hora e ainda me
batia com fio. Aí eu saí e não voltei
mais", disse Martins, que mora na
rua há mais de um ano.
Darlene Moraes da Silva, 24,
vende balas em faróis da cidade e
mora debaixo da ponte Jânio
Quadros (antigo viaduto Vila Maria), zona norte de São Paulo. Silva mora com o marido, dois filhos
(de 2 e 3 anos) e um sobrinho (de
11 anos).
O espaço debaixo da ponte é dividido ainda com a família do jardineiro José Martins de Lima Neto, 36, que mora com a mulher, e
uma filha de 1 ano.
"Só com o dinheiro da passagem eu não volto para a minha
terra. Pelo menos aqui a gente não
passa fome", disse Neto. O sonho
do casal é conseguir cerca de R$ 2
mil para retornar à Bahia (de onde vieram há cinco meses) e montar uma "vendinha".
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