São Paulo, segunda-feira, 22 de julho de 2002

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Paciente do SUS chega de madrugada e pega fila

DA REPORTAGEM LOCAL

Sorrindo e batendo palmas, o guarda chega para organizar a fila. "Os homens atrás, as mulheres na frente", diz, provocando risadas nas dezenas de pessoas que aguardavam para tentar marcar um exame no setor SUS de radiologia do Hospital das Clínicas de São Paulo, na zona oeste da capital, na última terça-feira.
Maria, 66, aposentada tinha chegado às 4h, vinda de Santana, e puxava o coro das reclamações.
"Não acho justo. Se eles podem pagar, porque não deixam mais lugar para a gente?", respondeu quando questionada sobre a outra porta, a dos exames dos convênios, que fica a menos de um metro da porta SUS. O outro setor tem vaso de flor de enfeite e cadeiras estofadas. "Cheguei às 4h e nem sei se vou conseguir marcar", disse a aposentada.
As filas do SUS, obviamente, não são um problema só da segunda porta. Mas, para os críticos do atendimento a planos, abrir o hospital para o setor privado significa desprezar a demanda monumental do sistema público, cujas origens são a falta de organização do sistema e déficit de recursos, entre outros problemas.
Ivete, 37, teve metástase do câncer de mama. Saiu do Campo Limpo (zona sul) às 4h30 naquele dia, caminhou dez minutos no escuro até o ponto de ônibus.
Chegou ao hospital às 5h30 e esperou no frio, em pé. Depois, segundo ela mesmo descreve, ficou esperando sentada no banco duro. Saiu às 8h do hospital, com o exame de ultra-som de mama, para avaliar o estágio da doença, marcado para outubro. Ela disse que iria conversar com o médico, para que ele tentasse "cavar" a realização do exame antes.



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