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44% dos "crecheiros" não têm 2º grau
FERNANDO ROSSETTI
enviado especial a Águas de Lindóia
Vai levar muito mais tempo para
adequar a formação dos educadores de creche do que os nove anos
que restam para se cumprir as determinações da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional -a LDB, aprovada em 1996.
A escolaridade dos chamados
"crecheiros" é muito baixa: 44%
não têm sequer formação no ensino médio, que é o requisito mínimo hoje. A LDB estabelece que até
2007 os educadores de creche deverão ter formação superior.
Além da baixa escolaridade, há
uma grande rotatividade desse
pessoal (o que dificulta programas
de treinamento) e os salários são
baixos -R$ 242, na média mensal
da rede federal (leia quadro).
Essas são as primeiras estatísticas mais gerais -e confiáveis-
produzidas no país sobre o atendimento em creches. Fazem parte de
um conjunto de pesquisas que estão sendo apresentadas esta semana no 1º Congresso Paulista de
Educação Infantil, em Águas de
Lindóia (170 km de São Paulo).
O próprio congresso é resultado
da LDB, que pela primeira vez incluiu as creches no sistema de ensino. Antes, elas eram vistas como
uma simples instituição de assistência social -sem preocupação
com conteúdos educativos.
A mudança legal provocou a necessidade de se reformular todas
as políticas públicas nessa área
-e isso demanda estudos que tracem um perfil do que já existe.
O quadro que começa a aparecer
é até pior do que o de outros níveis
de ensino -embora existam exceções importantes, que poderão
servir de modelo de melhoria.
"O conceito de creche está historicamente atrelado à sua origem
assistencialista. Mas há muitos
projetos que fazem mais do que isso", diz Emília Cipriano Sanches,
que coordenou o estudo "Padrões
de Atendimento e Qualidade de
Creche", do Instituto e Estudos
Especiais da PUC de São Paulo e
da Secretaria de Assistência Social
do Ministério da Previdência.
É esse "fazer mais" -ou seja,
"guardar" e, se necessário, alimentar as crianças para as famílias, mas também oferecer atividades lúdicas e educativas- que se
quer disseminar pelo país.
Mas até a faixa etária das crianças atendidas nessas instituições
vai atrapalhar. Pela definição da
LDB, creche é para criança de 0 a 3
anos. Mas, na tradição brasileira,
creche é aquilo que não é pré-escola (que, pela LDB, atende crianças de 4 a 6).
Segundo a pesquisa da PUC-SP,
62% das crianças atendidas pelas
creches custeadas pelo governo federal têm de 3 a 6 anos de idade;
4,5% têm mais de 7 anos.
Enfim, o quadro é péssimo, mas
o fato de 2.000 pessoas, a maioria
"crecheira", se reunir para buscar soluções, mostra que o Brasil
começou a encarar esse problema.
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