São Paulo, quinta, 22 de outubro de 1998

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44% dos "crecheiros" não têm 2º grau

FERNANDO ROSSETTI
enviado especial a Águas de Lindóia

Vai levar muito mais tempo para adequar a formação dos educadores de creche do que os nove anos que restam para se cumprir as determinações da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional -a LDB, aprovada em 1996.
A escolaridade dos chamados "crecheiros" é muito baixa: 44% não têm sequer formação no ensino médio, que é o requisito mínimo hoje. A LDB estabelece que até 2007 os educadores de creche deverão ter formação superior.
Além da baixa escolaridade, há uma grande rotatividade desse pessoal (o que dificulta programas de treinamento) e os salários são baixos -R$ 242, na média mensal da rede federal (leia quadro).
Essas são as primeiras estatísticas mais gerais -e confiáveis- produzidas no país sobre o atendimento em creches. Fazem parte de um conjunto de pesquisas que estão sendo apresentadas esta semana no 1º Congresso Paulista de Educação Infantil, em Águas de Lindóia (170 km de São Paulo).
O próprio congresso é resultado da LDB, que pela primeira vez incluiu as creches no sistema de ensino. Antes, elas eram vistas como uma simples instituição de assistência social -sem preocupação com conteúdos educativos.
A mudança legal provocou a necessidade de se reformular todas as políticas públicas nessa área -e isso demanda estudos que tracem um perfil do que já existe.
O quadro que começa a aparecer é até pior do que o de outros níveis de ensino -embora existam exceções importantes, que poderão servir de modelo de melhoria.
"O conceito de creche está historicamente atrelado à sua origem assistencialista. Mas há muitos projetos que fazem mais do que isso", diz Emília Cipriano Sanches, que coordenou o estudo "Padrões de Atendimento e Qualidade de Creche", do Instituto e Estudos Especiais da PUC de São Paulo e da Secretaria de Assistência Social do Ministério da Previdência.
É esse "fazer mais" -ou seja, "guardar" e, se necessário, alimentar as crianças para as famílias, mas também oferecer atividades lúdicas e educativas- que se quer disseminar pelo país.
Mas até a faixa etária das crianças atendidas nessas instituições vai atrapalhar. Pela definição da LDB, creche é para criança de 0 a 3 anos. Mas, na tradição brasileira, creche é aquilo que não é pré-escola (que, pela LDB, atende crianças de 4 a 6).
Segundo a pesquisa da PUC-SP, 62% das crianças atendidas pelas creches custeadas pelo governo federal têm de 3 a 6 anos de idade; 4,5% têm mais de 7 anos.
Enfim, o quadro é péssimo, mas o fato de 2.000 pessoas, a maioria "crecheira", se reunir para buscar soluções, mostra que o Brasil começou a encarar esse problema.



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