|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
`Mães' garantem tratamento anticâncer
Casas permitem que crianças doentes fiquem em São Paulo enquanto recebem atendimento
da Reportagem Local
Trabalho voluntário. Essa é a
expressão-chave para entender
como é feito o tratamento de
crianças carentes com câncer
em São Paulo.
Só assim se explica como a
A.A.C.C. (Associação de Apoio
à Criança com Câncer) consegue, com R$ 10 mil, dar hospedagem, alimentação, transporte, lazer, educação e lazer, de
graça e sem dinheiro público,
para 300 crianças todo mês.
É esse também o ``x'' da equação que permite à Sociedade
Pró-Hope manter 36 leitos para
crianças e acompanhantes e dar
serviços semelhantes em uma espaçosa casa na Vila Mariana (zona sul) com R$ 30 mil mensais.
As duas entidades, chamadas
de casas de apoio, não dão tratamento médico às crianças. Dão,
sim, suporte para que elas possam ficar em São Paulo com um
acompanhante pelo tempo que
for necessário para se tratar.
Em alguns casos, o suporte inclui escola, para que as crianças
não se atrasem nos estudos, e
acompanhamento psicológico.
Como na maioria das entidades assistenciais do gênero, a
A.A.C.C. e a Pró-Hope nasceram
da vontade de poucas pessoas e
foram aos poucos aglomerando
outros voluntários ao seu redor.
Wanir Leão Cavalcanti Rotta,
43, ``mãe'' da A.A.C.C., se envolveu com o assunto depois que
seu filho Tiago, 4, morreu vítima
de leucemia.
``Ele foi operado nos EUA. E lá
conhecemos uma entidade que
prestava toda a assistência. Quis
retribuir e eles disseram que eu
fizesse o mesmo aqui no Brasil.''
Tiago morreu no início de 84.
No mesmo ano, surgiu a
A.A.C.C.. Aos poucos, a entidade
foi ganhando corpo e hoje hospeda crianças por até um ano.
É o caso de Cristiany Fernandes
dos Santos, 15. Maranhense de
Bacabau, Cristiany teve uma perna amputada e um pulmão operado por causa de tumores.
De volta a São Paulo desde
quinta-feira passada para acompanhamento, Cristiany trouxe
boas notícias.
Na escola, apresentou as provas feitas na A.A.C.C. e descobriu
que é a primeira da classe, embora tenha estado um ano e um mês
longe de seu colégio.
``É que o ensino aqui é individualizado'', diz Aparecida Mar,
55, professora da A.A.C.C. ``O
mais importante, no entanto, é
que enquanto as crianças estão
estudando estão com o pensamento longe da doença.''
Na Pró-Hope, essa função é
cumprida, com sucesso, por
trabalhos artísticos desenvolvidos com as crianças.
``Recentemente tivemos uma
criança que chegou à mesa de
cirurgia em um estado psicológico e físico tão bom que o médico que a acompanhava disse
que se não fosse o nosso trabalho ela não teria resistido à operação'', diz Cláudia Bonfiglioli.
Cláudia, 38, é uma das ``mães''
da Pró-Hope. Mas, ao contrário
de outras ``matriarcas'' de entidades assistenciais, não teve um
familiar doente.
Envolveu-se com o câncer infantil trabalhando no Hospital
do Câncer. Hoje, dedica seu tempo livre à entidade.
Entre outras conquistas, a
Pró-Hope orgulha-se de ter uma
psicóloga em tempo integral, o
que ajuda a reduzir o estrese causado pelas circunstâncias que
envolvem a doença e as dificuldades financeiras das famílias
atendidas.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|