São Paulo, segunda-feira, 23 de fevereiro de 2004

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Silicone pode representar risco à saúde

DA REPORTAGEM LOCAL

Sara, uma liderança de Cuiabá, morreu numa aplicação clandestina de silicone. As aplicações fazem parte de uma lista de riscos para as travestis: vão da contaminação pela Aids à violência da polícia, dos próprios clientes e das pessoas que passam nos carros.
"Elas sabem dos riscos, mas muitas vezes o desejo de ficar mais bela conta mais", diz Marcela Prado.
As aplicações de silicone são feitas nas nádegas, nos seios e às vezes no rosto. Se fizessem as aplicações numa clínica de cirurgia plástica, correriam muito pouco risco, mas teriam de pagar entre R$ 3.000 e R$ 6.000.
Numa bombadeira -como são chamadas as pessoas que fazem a aplicação de silicone clandestinamente-, o procedimento não passa dos R$ 500. "Elas usam um silicone industrial, que com o tempo pode mudar de lugar, deformando o corpo", diz Marcela Prado.
O Grupo Gay da Bahia (GGB) tem uma publicação dedicada à "redução de danos para travestis", indicando cuidados que podem diminuir os riscos desse procedimento. Luiz Mott, professor da Universidade Federal da Bahia e fundador do GGB, diz que uma pesquisa feita em Salvador encontrou 57 delas que tinham no corpo de um copo a 12 litros de silicone. Algumas relatam ter feito mais de 300 aplicações de silicone.
Diz a cartilha do GGB que as aplicações são "extremamente dolorosas, devido às agulhas serem muito grossas, de uso veterinário", as únicas que permitem a passagem do silicone.
Só para moldar um "pirelli" (um quadril) são necessárias dezenas de perfurações.
Segundo Mott, médicos ouvidos dizem que a tendência das travestis é sempre aplicar uma quantidade muito grande de silicone, aumentando os riscos e agravando as conseqüências. Travestis ouvidas pelo grupo GGB relatam muitas dores, desconforto e deformações, com o silicone descendo para o escroto, as pernas e até os pés.
Muitas das bombadeiras trabalham em locais improvisados. A cartilha do GGB, entre outras sugestões, recomenda às travestis que levem um lençol de casa, para evitar possíveis contaminações. (AB)


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