São Paulo, segunda, 23 de fevereiro de 1998

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Perito condenou edifício em laudo concluído em julho do ano passado

France Presse
Carro é içado da garagem do Condomínio Palace, que já havia sido condenado por laudo feito em 97


da Sucursal do Rio

Morador do apartamento 208, o engenheiro civil e ex-síndico Gregório Duarte Santos apresentou um laudo de vistoria, concluído em 8 de julho do ano passado, que já condenava a estrutura dos dois edifícios.
Assinado pelo perito Nélson de Moraes Guimarães, o documento tem 150 fotografias, que mostram estruturas trincadas, juntas de dilatação oxidadas, estufamentos nos pilares -que indicam corrosão interna do aço-, pilares com espaçamentos irregulares entre as vigas, má conservação de fachadas e infiltrações em diversos apartamentos.
Segundo o ex-presidente do Crea (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura) Alexandre Duarte, que esteve ontem no local do desabamento, o reforço dos pilares deveria ter sido feito imediatamente após o laudo.

Maquiagem
Moradores informaram que, há dois meses, foi realizada uma cobertura superficial dos pilares que estavam em pior estado.
"Reforço de estrutura é uma coisa, maquiagem é outra", disse Duarte.
Para o ex-presidente do Crea, o principal problema levantado pelo estudo é o seccionamento dos pilares da garagem.
As fotografias já mostram o processo de corrosão das vigas de sustentação do edifício.
Duarte é especialista em recuperação de estruturas e professor da cadeira de Patologia das Construções na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
O ex-síndico afirmou ter entrado com um processo judicial contra a construtora, em conjunto com outros moradores, para que fosse feita a recuperação dos prédios.
O presidente do Crea no Estado do Rio, José Chacon de Assis, 49, disse que, após analisar o processo referente ao desabamento do prédio, o Conselho de Ética da entidade poderá, se alguma irregularidade for provada, cassar o registro profissional do engenheiro responsável, Sérgio Murilo Domingues, e a licença da construtora Sersan.
De acordo com Chacon de Assis, o Conselho de Ética do Crea -formado por 83 profissionais de diferentes especialidades- dará ao engenheiro e aos donos da empresa "total oportunidade de defesa".

Concretagem
O presidente do Crea revelou que, há pouco mais de um ano, fiscais da entidade haviam vistoriado o prédio.
"Na ocasião, estava tudo direitinho. Não acredito em falha de projeto. Creio que houve o esmagamento dos pilares. Parece que o concreto não aguentou. Pode ter havido um erro na concretagem", afirmou Chacon de Assis à Folha.
Por causa do Carnaval, o presidente do Crea disse não ter tido condições de acessar os arquivos informatizados da entidade.
Chacon de Assis disse que os arquivos poderão indicar se o engenheiro e a construtora já sofreram investigações anteriores.
"Não me lembro da existência de processos contra eles, mas só vou poder checar na quarta-feira", disse ele.

Investigação
Participar da comissão que investigará as causas do acidente é a principal reivindicação que o Crea apresentará ainda esta semana aos governos estadual e municipal.
Os laudos técnicos preparados a partir das análises dos escombros servirão de base para as conclusões dos membros do Conselho de Ética do Crea.
Chacon de Assis disse que o Conselho de Ética poderá se manifestar sobre o caso em um mês.



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