São Paulo, terça, 23 de março de 1999
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Oscar, corrupção e madames abafam Telefônica

MARILENE FELINTO
da Equipe de Articulistas

Aprender a exigir -quando não se devia nem pedir, ou quando pedir é pouco-, aprender a dizer não, a desobedecer se não é respeito o que se recebe, a se auto-respeitar, ainda que se vá sozinho, que se seja um perdedor de antemão, que se morra sem conseguir.
"Desobediência civil", essa a expressão, a atitude defendida por Thoreau, um escritor americano do século 19 que dizia: "Para que todo homem tem uma consciência, então? Acho que devemos ser homens primeiro e só depois, súditos."
Se fosse hoje e se fosse aqui -aqui onde um escândalo encobre outro, que encobre outro, que encobre um terceiro-, Thoreau pregaria de novo sua desobediência civil. Algo como: não pago mais impostos para uma prefeitura corrupta, que não me devolve serviços, bem-estar, cidadania, que me rouba descaradamente.
Em que bolso, de qual vereador do PPB de São Paulo, estarão os R$ 400 que fui obrigada a pagar de IPTU este ano? Em que bolso, de qual safado? Thoreau foi preso por não pagar impostos obrigatórios à igreja em que não acreditava, da qual não participava. Thoreau teve a coragem de seguir com seus princípios até o fim, até a solidão fria de uma cela.
Aqui onde um escândalo sempre abafa outro, o desserviço da Telefônica de São Paulo está abafado pelo escândalo da corrupção na prefeitura, pelo show das peruas loiras dos Jardins, que desfilaram diante do mais rico shopping da cidade -protegidas por seguranças particulares negros- pedindo segurança contra os bandidos, os ladrões e assassinos que não param de molestar suas vidas. Um escândalo encobrindo outro: as madames se esquecem de que os bandidos não têm nada a perder, exatamente porque elas, madames, têm tanto, demais, excessivamente, mais do que se deve ter.
Nem mesmo o ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, em seu recente encontro com um diretor da Telefônica, resolveu o problema dos telefones de São Paulo. O telefone recém-instalado de dona Fátima, em Pinheiros, funcionou apenas um dia. Está lá largado, mudo, há semanas.
O sr. Luís, do litoral sul de São Paulo, vai todo mês atrás de suas ações que a Telefônica nem paga nem explica porque não paga. Acompanhei o caso do telefone do sr. Luís Roberto, na zona sul de São Paulo, que teve o prefixo trocado e demorou um mês para funcionar.
Mesmo depois da visita "de cortesia" de um técnico da Telefônica, que examinou e trocou a fiação interna, o sr. Luís não consegue ter uma extensão dentro de casa. O telefone voltou a quebrar totalmente ontem. Já no caso de dona Satiko, do Jabaquara, trocaram o prefixo do telefone de sua escola sem avisar. O novo número não recebe ligações há duas semanas.
O farmacêutico do meu bairro denuncia que pagou propina para funcionários de uma empresa a serviço da Telefônica. Só por isso seu telefone teria voltado a funcionar.
Ainda bem que a patriotada do Oscar -montada para encobrir a crise do Real !-não deu em nada. Seguimos na real: privatizados e idiotas.

E-mail: mfelinto@uol.com.br


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