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Oscar, corrupção e madames abafam Telefônica
MARILENE FELINTO
da Equipe de Articulistas
Aprender a exigir -quando
não se devia nem pedir, ou
quando pedir é pouco-,
aprender a dizer não, a desobedecer se não é respeito o que se
recebe, a se auto-respeitar, ainda que se vá sozinho, que se seja um perdedor de antemão,
que se morra sem conseguir.
"Desobediência civil", essa a
expressão, a atitude defendida
por Thoreau, um escritor americano do século 19 que dizia:
"Para que todo homem tem
uma consciência, então? Acho
que devemos ser homens primeiro e só depois, súditos."
Se fosse hoje e se fosse aqui
-aqui onde um escândalo encobre outro, que encobre outro,
que encobre um terceiro-,
Thoreau pregaria de novo sua
desobediência civil. Algo como:
não pago mais impostos para
uma prefeitura corrupta, que
não me devolve serviços, bem-estar, cidadania, que me rouba
descaradamente.
Em que bolso, de qual vereador do PPB de São Paulo, estarão os R$ 400 que fui obrigada
a pagar de IPTU este ano? Em
que bolso, de qual safado? Thoreau foi preso por não pagar
impostos obrigatórios à igreja
em que não acreditava, da qual
não participava. Thoreau teve
a coragem de seguir com seus
princípios até o fim, até a solidão fria de uma cela.
Aqui onde um escândalo
sempre abafa outro, o desserviço da Telefônica de São Paulo
está abafado pelo escândalo da
corrupção na prefeitura, pelo
show das peruas loiras dos Jardins, que desfilaram diante do
mais rico shopping da cidade
-protegidas por seguranças
particulares negros- pedindo
segurança contra os bandidos,
os ladrões e assassinos que não
param de molestar suas vidas.
Um escândalo encobrindo outro: as madames se esquecem
de que os bandidos não têm nada a perder, exatamente porque elas, madames, têm tanto,
demais, excessivamente, mais
do que se deve ter.
Nem mesmo o ministro das
Comunicações, Pimenta da
Veiga, em seu recente encontro
com um diretor da Telefônica,
resolveu o problema dos telefones de São Paulo. O telefone recém-instalado de dona Fátima,
em Pinheiros, funcionou apenas um dia. Está lá largado,
mudo, há semanas.
O sr. Luís, do litoral sul de São
Paulo, vai todo mês atrás de
suas ações que a Telefônica
nem paga nem explica porque
não paga. Acompanhei o caso
do telefone do sr. Luís Roberto,
na zona sul de São Paulo, que
teve o prefixo trocado e demorou um mês para funcionar.
Mesmo depois da visita "de
cortesia" de um técnico da Telefônica, que examinou e trocou a fiação interna, o sr. Luís
não consegue ter uma extensão
dentro de casa. O telefone voltou a quebrar totalmente ontem. Já no caso de dona Satiko,
do Jabaquara, trocaram o prefixo do telefone de sua escola
sem avisar. O novo número
não recebe ligações há duas semanas.
O farmacêutico do meu bairro denuncia que pagou propina para funcionários de uma
empresa a serviço da Telefônica. Só por isso seu telefone teria
voltado a funcionar.
Ainda bem que a patriotada
do Oscar -montada para encobrir a crise do Real !-não
deu em nada. Seguimos na
real: privatizados e idiotas.
E-mail: mfelinto@uol.com.br
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